01/06/09

Erros meus

O Zé Ricardo mandou-me um e-mail e depois um comentário, que agradeço, por causa de um erro imperdoável. Troquei um percebesse por um percebe-se, no post anterior. Coisa feia. Uma distracção na correcção do texto. Mas eu tenho uma palavra onde a minha propensão para o erro é quase infalível, a palavra "creche". A minha intencionalidade é sempre para escrever cresce. É muito curiosa a origem psicológica do erro. A creche é um infantário, um sítio onde as crianças crescem. A palavra portuguesa, porém, deriva de crèche, vocábulo francês que significa infantário; um galicismo, portanto. Quando oiço ou profiro o vocábulo associo-o sempre ao estar a crescer. Não é que não haja um longínqua razão para isso. O vocábulo francês crèche, antes de significar infantário, significou manjedoura, o que não deixa de estar ligado ao crescimento. No caso de creche o erro é incrementado pela aproximação fonética de creche e de cresce. Errar na ortografia é coisa corrente, mesmo em quem escreve muito e está atento à escrita. Aliás, escrevo sempre com o dicionário aberto (tenho um no computador) e consulto-o sistematicamente. Faço isso há dezenas de anos. Por que razão? Porque a escrever dou erros, surgem-me dúvidas, tenho necessidade de esclarecer o étimo da palavra, etc. Um dicionário é um bom amigo. Prefiro-o ao prontuário ortográfico. Os erros piores são, porém, as distracções que, muitas vezes, resistem a várias revisões. Há um outro fenómeno psicológico associado. Uma das minhas experiências de envelhecimento está ligada a uma certa perturbação da ortografia. Palavras cuja grafia nunca me levantara dúvidas surgem-me agora de forma mais nebulosa e exigem que eu as confirme no dicionário. Esta imprecisão ortográfica é, no entanto, contrabalançada por um maior domínio da densidade semântica da língua. Envelhecer tem os seus aspectos positivos. Valha-nos isso. Enfim, peço desculpa a quem deu pela troca do pretérito imperfeito do conjuntivo pelo presente do indicativo conjugado na forma reflexa. Será que é assim que ainda se diz?

1 comentário:

maria correia disse...

É mesmo assim que se diz...
Reparei no erro, claro, mas percebi imediatamente que é daqueles erros de distração de quem escreve por vezes sem ter tempo para a revisão. Ia também avisá-lo, mas não tive tempo tempo, felizmente já foi corrigido. Tenho visto bem pior, em livros acabados de sair de casas cuja tradição não o deveria permitir. Enfim, no seu caso foi apenas «erros meus e má fortuna»...
Em relação a «creche», não gosto da palavra, seja qual for o étimo que lhe deu origem. Lembra logo a sociedade em que vivemos, onde as crianças são postas a «crescer» em «manjedouras», por falta de tempo e dinheiro por parte dos pais. Nenhuma criança deveria «crescer» em creches...(ah, é muito bom para os bebés, aprendem a «socializar»--outra palavra de que não gosto--dizem os pseudo-educadores/as). Que disparate. A criança deveria aprender a vida no seio da família, com pais, irmãos, avós e bisavós em seu redor, se possível for. Entrar numa creche evoca sempre o Admirável Mundo Novo...não tarda, começarão a separar os bebés em Alfas e Ómegas...