A queda
Se há duas personagens que marcam o estilo e a natureza do actual governo, elas são o primeiro-ministro, José Sócrates, e a ministra da Educação, Lurdes Rodrigues. Têm muitas coisas em comum, desde um certo provincianismo, embora tratado de formas diferentes, até à arrogância, passando pele inflexibilidade, fundamentalmente quando pensam que estão perante os mais fracos.
Os sinais da queda de ambos têm vindo a crescer, embora ainda não seja claro que isso aconteça. Sócrates vê, pela primeira vez, o PSD de Ferreira Leite ultrapassar o PS nas intenções de voto. As sondagens valem o que valem, mas é sempre mais agradável aparecer em primeiro lugar do que em segundo. E uma coisa é já evidente: o PSD pode ganhar as eleições legislativas. Outro sintoma da queda de Sócrates é a história do veto governamental à compra de parte da TVI pela PT. Para Sócrates, colocar a PT na TVI seria um passo interessante para fazer calar certos telejornais particularmente desagradáveis. Mas o governo, devido à intervenção do Presidente da República, foi obrigado a recuar. Também a animação do caso Freeport, apesar do primeiro-ministro não ter sido visado, está longe de ser benéfica para o PS.
Relativamente à ministra da Educação, os tempos também não têm sido favoráveis. A senhora pode falar sobre os bons resultados do sistema educativo, mas ninguém, tirando os acólitos de serviço, acredita na veracidade da coisa. Todos desconfiam, e certamente com alguma razão, da qualidade dos exames e das Provas de Aferição. Mas não bastava isso, um estudo da Deloitte vem mostrar que uma das grandes medidas de combate aos professores (sim, o ME teve por missão combater os seus professores), as quotas na avaliação, é uma especificidade portuguesa, inventada pela actual equipa, na sua política de suave e disfarçado terror dentro das escolas.
O Partido Socialista ainda pode reverter a situação, mas que ele merece um grande castigo, isso merece-o. Não é que a alternativa seja interessante. Nós já sabemos o que é um país governado por Cavaco (sim, será Cavaco a governar a partir de Belém), Ferreira Leite e Portas. Mas o Partido Socialista precisa de uma purga, precisa de limpar toda uma cultura absolutamente inaceitável que se instalou no partido e, através dele, no Estado central e nas autarquias. Não sei se o PS tem capacidade de regeneração, ou se a doença que o afecta se tornou crónica. Mas um tratamento na oposição não lhe fará, por certo, nada mal. Bem precisa e o país também. Mas ainda não é líquido que isso aconteça.
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