20/06/09

As palavras alemãs


As palavras alemãs pendem da língua alemã como pesos de chumbo, disse eu a Gambetti, e fazem o espírito baixar, em qualquer caso, para um nível pernicioso a esse mesmo espírito. O pensar alemão, tal como o falar alemão paralisam rapidamente sob o fardo desumano da sua língua, que reprime tudo o que é pensado ainda antes de chegar a ser expresso; com a língua alemã, o pensamento alemão só dificilmente se conseguiu desenvolver e nunca atingiu a sua plena floração, ao contrário do pensamento românico com as línguas românicas, como prova a história dos esforços seculares dos Alemães. Embora eu tenha em mais apreço o espanhol, provavelmente porque me é mais familiar, Gambetti deu-me nessa manhã mais uma preciosa lição sobre a fluidez, a leveza e a infinidade do italiano, que está para o alemão como uma criança duma família feliz e abastada, que cresceu inteiramente livre, para uma que foi oprimida, espancada e se tornou, por isso, aleivosa, nascida de gente pobre ou paupérrima. Muito mais apreciadas devem ser, portanto, disse eu a Gambetti, as obras que os nossos filósofos e escritores conseguiram realizar. Cada palavra, disse eu, puxa forçosamente o seu pensamento para baixo, cada frase, seja o que for que eles se tenham atrevido a pensar, pende para o chão e assim faz cair sempre tudo no chão. Por isso, é também a sua filosofia e é também o que eles escrevem como se fossem de chumbo. [Thomas Bernhard, Extinção]

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