Metamorfoses XLI
Olivier Messiaen - Quator pour la fin du temps
a cidade desfalece ao crepúsculocasas caídas ruínas vindas da terra jubilosa
a visão solar do casario ao longe
as árvores ressequidas pelo calor de junho
e o insuportável cristal a tudo deixa ver
um cheiro a urina seca vem das esquinas
aqui e ali miam gatos vadios pardos cansados
à luz dos candeeiros chega a liturgia da noite
ilumina as velhas paredes do castelo
onde cessaram de repente todos os combates
sigo com atenção o lento trabalho do bolor
um exército de cavaleiros azuis invade a laranja
delimita o território conquistado
traça universos de morte na madeira das casas
anuncia na língua dos profetas o porvir
entro num café ainda aberto as mesas vazias
no balcão estão copos sujos cascas de tremoços
– um súbito clarão atravessa a rua e logo um carro o segue –
a televisão grita no silêncio furioso da sala
e numa cadeira de fórmica o dono dormita babando-se
é tarde as cores esbatem-se num cinza matizado
das paredes das casas vêm ondas de calor
aqui e ali ouvem-se vozes e uma bicicleta passa
corta o ar quente e perde-se na curva ao entrar
nos meus olhos abertos para a cegueira que os contamina
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