A estranha ferida narcísica
Ontem, apesar dos bons resultados eleitorais, o PCP sofreu uma humilhação histórica. Um bando sem princípios, o Bloco de Esquerda, formado a partir dos antigos grupelhos esquerdistas, antiga, e não sei se actual, linguagem do PCP, teve a ousadia de ter mais votos que a CDU e de eleger mais um deputado. Tirando os tempos em que eu era militante político, e isso já foi há mais de 30 anos, nunca compreendi qual é o fascínio que o PCP tem pela extrema-esquerda ou, melhor, ex-extrema-esquerda.
É esse fascínio que conduziu à actual ferida narcísica. E, no entanto, nada é mais injustificado do que a preocupação do PCP com o BE. Contrariamente ao que muito gente pensa, PCP e BE não disputam o mesmo eleitorado, não se dirigem ao mesmo "povo". Na verdade, não se atrapalham um ao outro. Neste caso, o BE tem sido mais inteligente que o PCP. Os antigos partidos que constituem o BE, a UDP/PCP(R) e o PSR/LCI, viviam na ilusão de penetrar no eleitorado do PCP, de lhe roubar os operários e os camponeses e conduzir o povo à revolução socialista.
Essa ilusão morreu, porém, quando nasceu o BE. O BE nasce da percepção que isso era impossível e se aquele grupo de gente queria ter algum papel político, então teria de fazer pela vida noutro lado, procurar outros mercados eleitorais. Foi isso que aconteceu. O BE não passa de um partido social-democrata com linguagem mais ou menos radicalizada, um PS de esquerda. O BE penetra no eleitorado do PS e até do PSD e do CDS, mas nunca no do PCP. É uma questão de classe. Muito, mas muito dificilmente, aqueles votos do BE iriam, caso o Bloco não existisse, para o PCP. Este BE nada tem a ver com os velhos dissidentes do PCP que, em 1964, formaram o CMLP e deram origem à extrema-esquerda portuguesa. Esses nunca passariam dos 2 ou 3 por cento. Mas o fascínio não é coisa que se explique, nem esta estranha ferida narcísica.
3 comentários:
Concordo (em parte) com o que diz. Mas mais importante que isso, era interessante saber o que são o PS e o PSD. Serão partidos construídos a partir de baixo (das pessoas), ou a partir de cima (dos interesses financeiros e económicos) e subsidiados por estes?
É bem provável… O BE pode-se tornar numa alternativa ou não. A abstenção vez com que os pequenos partido subissem em percentagem. As próximas eleições puderam ser diferentes. Uma importante diferença entre o BE e a CDU, é que o BE não está rotulado com o comunismo e depois porque apresenta-se como um partido moderno, jovem. Assim abrange novos mercados. Mas naturalmente, pode ser o voto de comunistas descontentes, é sempre um voto à esquerda do PS. Mas parece-me que os grandes vencedores das eleições foram mesmo o BE, triplicando o número de deputados e ultrapassando a CDU. Cumprimentos.
Regresso de férias e venho ao seu blogue.
Confesso que não entendo este seu post. Aquilo que agora escreveu, anda muito comunista a escrever há muito tempo.Os caminhos do BE e do pCP não saõ obviamente os mesmo - sendo que quando o PCPé sincero quando afirma e reafirma que aquilo que que preocupa o PCP é o crescimento da CDu e não o cresciomento do Bloco. Aliás o PCP foi fortemente criticado em Dezembro de 2008 por ter caracterizado o BE como uma força social democrata.
JCM,
em política não há podiuns. Como diz Sóctates ( o do PS) cada um pedala com a sua bicicleta.
Prova provada foram estas eleições:
o BE cresceu e a CDU cresceu.
Sem espinhas!
Ah! os partidos sérios não existem para disputar mercados - existem para defender e lutar por ideias ideias. Felizmente a democracia não é um hipermercado do sr belmiro- É por isso que na nossa democracia há lugar felizmente para o POUS, para o PPM...etc
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