Metamorfoses XXXIX
Henri Dutilleux – Ainsi la Nuit
alguém desenhou a lua nova
contra um céu de trevas
e deixou dentro da noite uma janela
de onde se olha a escuridão
foram levados os rebanhos
e na cidade roubaram o que havia
a garrafa partida
um candeeiro de cristal
o santo que perdera a devoção
apagaram as palavras
e o silêncio fulgurou como uma ave
na transparência do céu
não era uma ilha a mudez da noite
nem a plataforma continental
que em desvario se desloca
arremessando cidades pelo chão
apenas uma lua nova
a escurecer em fundo de trevas
quando nada há para dizer
as palavras em pó
a esclerose sobre os dedos
a abrir cáries nas ruas
feridas pelos jardins
e um grito ermo no lugar da solidão
Sem comentários:
Enviar um comentário