Metamorfoses XLII
Gavin Bryars – Farewell to Philosophy
no farol cor de malva crescem flores silvestres
à minuciosa luz do entardecer
os barcos tecem redes pequenas armadilhas
onde aprisionam as águas até que o porto
os devore na sombra que desagua na noite
um sino repica ao longe e escutam-se passos
na pressa que levam partilham o medo da solidão
e se sulcam as ruas onde se ouve o marulhar das águas
é para as infestar de geada e restos de sal
a película de seda escura que cobre o horizonte
rasga-se se o farol rodopia e por um instante a ilumina
traçando um cone de luz promessa de um dia nítido
sem a gangrena que a tudo escurece
não falemos em extinção nem na ânsia
que toma os membros os inclina e joga pelo chão
deixemos apenas as flores crescer no farol de malva
para gritarem quando chegar o calor do estio
deixemos apenas a luz sucumbir no terror da mão
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