22/06/09

Sobre os militantes católicos

Liga Operária Católica


Aproveito a converso com o Zé Manel, e um comentário anterior, para retornar à questão dos militantes católicos. Diz: “Os militantes desta corrente de pensamento dividiram-se em 1974 pelo PSD, pelo PS e até curiosamente pela UDP (que tinha uma grande influência na LOC).”

A minha memória não é efectivamente essa. É verdade que muitos militantes católicos se dividiram pelo PPD e pelo PS. Relativamente à UDP, não tenho essa impressão.

Para além do PSD e do PS, há uma franja enorme, entre jovens universitários e quadros operários católicos, que está na origem do MES (Movimento da Esquerda Socialista). Alguns desses militantes são pessoas notáveis e tiveram, e ainda têm, um papel político importante. Penso que também havia gente católica na FSP (Frente Socialista Popular) do Manuel Serra, uma cisão do PS, e na LUAR. É provável que também estivessem noutras organizações da extrema-esquerda, de que já não recordo o nome. Uma fatia deles terá ido para o PCP ou para o MDP-CDE, na altura.

Que memórias tenho eu sobre isso relativamente a Torres Novas? Eu não conhecia as organizações católicas (JOC e LOC) por dentro, mas conhecia as pessoas (naquele tempo, toda a gente conhecia toda a gente em TN). Os militantes católicos locais devem ter-se distribuído pelo PPD, pelo PS, claramente, pelo PCP (aliás, já antes do 25 de Abril havia uma cooperação local entre os jovens comunistas e os sectores católicos, isso eu conheço bem). Não tenho memória de ninguém dessa área católica na UDP, mas tenho no PRP (Partido Revolucionário do Proletariado). Julgo que o PRP, dirigido por Isabel do Carmo, tinha gente de extracção católica, mesmo a nível nacional. A nível local tinha de certeza.

Portanto, tanto quanto o meu conhecimento alcança, não havia ligação entre os militantes católicos e a UDP, mas não sei como era a nível nacional (nunca passei de um militante local), embora exista a referência do Padre Max, assassinado no norte, e do padre Martins Júnior, na Madeira. Mas julgo que essa presença de militantes católicos era excepcional, pois a UDP tinha uma forte e muito dogmática estrutura ideológica fundada nos princípios marxistas e no ateísmo. Veja-se o seu primeiro símbolo (no próximo post).

3 comentários:

zemanel disse...

JCM
a sua memória viva é neste aspecto fundamental. E historicamente relevante. Com a minha idade ( sim nasci em Outubro de 73, já o salgueiro maia dvia andar a juntar gasoleo para encher as chaimites para vir até Lisboa...)recorro fundamentalmente às coisas que vou lendo, ao cruzamento de histórias ouvidas, etc...
Tinha ideia, fundamentalmente a nível nacional, que correntes mais radicais ligadas aos Católicos progressistas teriam estado primeiro na UDP e posteriormente na origem da candidatura presidencial de Pintasilgo.
(Augusto Santos Silva por exemplo terá feito esse percurso...)
Incontornáveis: O padre Max e os padres madeirenses ( a UDP tinha a sua maior influência nacional na Madeira). Agora o JCM refere que desconhece a nível local ligações entre os católicos e a UDP - admito integralmente a tese e rectifico a minha leitura desses tempos.
Que houve correntes católicas no esquerdismo português no pós revolução, parece-me um facto incontornável. O facto de eu os associar na UDP poderá ser um erro de quem está a escrever estes textos sem recorrer a documentos históricos. Mas mesmo assim onde estará então a origem dete erro?
na eventual consideração de associar a UDP ao esquerdistas e subsequente generalização que o cérebro estará de forma traiçoeira a fazer: tomando a UDP como todo o esquerdismo em Portugal - o que é factualmente errado!
Cumprimentos
zémanel

Anónimo disse...

provavelmente essa confusão apenas reflecte uma outra, mais generalizada e incompreensível: esquecer a grande divisão na extrema-esquerda entre grupos ml e grupos não ml (alguns nem sequer "m"), como se o radicalismo político tivesse, obrigatoriamente, uma raíz ml (e todas as correntes ideológicas historicamente não-leninistas ou mesmo anti-leninistas? luxemburguistas, situacionistas, libertários, espartaquistas, por aí fora...); provavelmente, se isto fosse aprofundado, veríamos mesmo surgir outras clivagens com alguma nitidez, como as origens sociais e geográficas de vários desses grupos, mas isso já seria matéria para outras discussões e investigações. simplificando a ideia: não há católicos nos grupos ml (os casos dos padres Max e Martins Júnior são apenas casos de proximidade táctica e voluntarista, não de identidade ideológica, o apoio a Pintassilgo apenas uma cedência táctica da UDP, em nome de um sonhado frentismo que desse ganhos posteriores), estão, sim, bastante presentes nos grupos não ml (FSP, LUAR, PRP, etc.). Claro que localmente haverá circunstâncias particulares (empatias pessoais, personalismos, frentes de descontentamento, reconhecimento de acções concretas...), mas penso que a matriz geral é a que aqui defendo.
carlos

graça martins disse...

Olá Jorge,

espero que as férias com a tua neta sejam revigorantes.

passei por aqui

e fui fazendo o caminho ao contrário até que cheguei a este post.

deixo só uma informação, que nem sei se te interessa, relativamente à JOC e LOC. Durante muitos anos, o meu pai, Emídio Martins, torrejano, liderou a LOC. Conheci, como os meus irmãos (a minha irmã foi presidente nacional da JOC), as instalações da sede na rua Manuel Bernardes ao Príncipe Real e a tasca onde aprendemos a gostar de bitoques e dobrei muitos "Voz do Trabalho" utilizando garrafas de sumol de ananás.

lembro-me dos padres que participavam e que eram os chamados padres-operários pois trabalhavam na Lisnave e na Setnave.

recordo também os amigos e amigas da direcção da Loc e não me recordo de participarem em partidos políticos, alguns colaboraram, como o meu pai, na CGTP.

se quiseres saber a história podes falar com ele (anda sempre por aí). Também com a Manuela Neves que ainda representa Torres Novas.

...a história até é curiosa e feita de gente com boa vontade...

...mas agora descansa.
abraços
de graça