A democracia iraniana

Na sua caridade, esqueceram, como é hábito, certos pormenores. Por exemplo, o principal líder político do país não é eleito por sufrágio universal. O cargo, de carácter vitalício, tem o extraordinário nome de Guia Supremo e resulta de uma eleição por uma não menos extraordinária Assembleia de Peritos. O Presidente da República é eleito por sufrágio universal, mas pura e simplesmente pode ser demitido se a sua governação não coincidir com a interpretação que o Guia Supremo faz da constituição.
Percebo que muita gente gostasse de ser governada por um Guia Supremo, alguém que decidisse, em última instância, o modo como deveríamos viver. Esta arquitectura política da República Islâmica aproxima-se bastante das arquitecturas políticas dos regimes fascista, nacional-socialista e comunista. Em todos eles, de uma forma ou de outra, há sempre um Guia Supremo, alguém que pensa por nós e nos dispensa não apenas do acto de pensar, mas também de dirigir a própria vida e de participar na vida comunitária, a não ser segundo os moldes pensados pelo pensamento do Guia Supremo.
O que essas almas caridosas, que já viam na eleição iraniana um novo vento de leste, arquétipo do qual deveríamos participar, não conseguem explicar é a onda de tumultos que tão democrática eleição produziu, bem como o facto de, no famigerado Ocidente, as eleições não produzirem tumultos, nem queixas de fraude eleitoral, nem prisões dos vencidos ou pseudo-vencidos. A não ser que os admiradores dos Guias Supremos achem que, havendo quem supremamente nos guie, os resultados eleitorais se devam acomodar à visão eleitoral do supremo Guia.
1 comentário:
Ora eis uma grande verdade!
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