Leo Strauss - Cultura e civilização

A conferência Sur le nihilisme allemand foi pronunciada em 1941. Strauss encontrava-se já nos EUA e assistia de longe ao domínio do nazismo sobre a sua pátria. A conferência é uma análise do niilismo alemão que de certa forma está na origem do fenómeno nazi. O que me interessa, porém, sublinhar é a velha distinção entre cultura e civilização e perguntar se, nas actuais sociedades, não estamos a assistir a uma regressão da civilização em detrimento da cultura. O multiculturalismo tem sido usado como arma de arremesso para fazer recuar os processos civilizacionais, entendidos estes à luz das palavras de Leo Strauss: tornar o homem num cidadão e não num escravo. Perceber isso, por seu turno, exige interrogar a conexão entre as sociedades liberais e o niilismo, o que implica ainda uma outra interrogação: o que torna o conceito de cidadão, nas sociedades actuais, tão frágil e permeável ao não civilizado, ao não cívico? Será o seu carácter, nas sociedades modernas, puramente formal? Será a sua conexão com uma organização política, o Estado-Nação, que se encontra sob fogo de estruturas políticas infra-estaduais (as regiões e os municípios) e supra-estaduais (a União Europeia, por exemplo)? Será a própria natureza ontológica do cidadão, o que implica a investigação daquilo que faz com que um cidadão seja um cidadão, isto é, a sua essência? Seja qual for a questão que se coloque como determinante daquilo que dá que pensar, o texto de Strauss abre para uma reflexão sobre a conexão entre cidadania e niilismo, desviando este último conceito da área ética e da filosofia da cultura, para o introduzir na reflexão sobre o político.
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