Metamorfoses XXXVI
Henryk Gorecki - Miserere
um traço de esmalte riscava a parede
nas mãos havia copos de plástico
e no limiar da porta um vaso de aspidistras
indicava a fronteira que ninguém passava
o movimento repetia-se incessante
e o anoitecer era antecipado pelo fecho das lojas
onde se comprara pão e carne
duas garrafas de vinho um quilo de açúcar
impetuosa e erma cresceu a noite
e nos destroços que deixara para trás
via-se braços despedaçados
duas asas esquecidas por anjo solitário
e as folhas dilaceradas das aspidistras
o símbolo que o futuro enviava
para que todos o reconhecessem
quando chegasse com a sua face outonal
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