Metamorfoses XLIX
Tristan Murail – Le Lac pour ensemble
o medo avança entre cartas trocadas
e um desejo de consolo a abrir o coração
não vale a pena deitar a mão ao gargalo
há muito que o álcool se evaporou
deixando um odor a madeira velha
no abismo grudado ao fundo da garrafa
um itinerário livre nas águas
o remo preso na ânsia da mão
assim vai o remador na senda da tarde
e tacteia os céus com olhos fechados
para não ver a melancolia do azul
ou o vazio onde floresce o pavor
não há astúcia que pare o bater do coração
nem nuvem que sombreie o sol
apenas se ouve o latejar dos remos
e o desconcerto da ave que grita
como se o peito fosse seca argila
e o ar pedra que no céu a vai matar
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