27/06/09

Isabel Hormigo - Exames ou trivialidades?

Olhando para muitos dos exames actuais, há quem diga que as perguntas são hoje mais fáceis do que o eram há dez ou 20 anos. Praticamente todos estão de acordo neste ponto, excepto algumas pessoas que têm responsabilidades no sistema educativo e que têm estado envolvidas nas sucessivas reformas do ensino. Existe uma contradição curiosa: umas vezes diz-se que o "quadro cognitivo" se tornou diferente com o acesso de todos à educação e que, por isso, não se pode ser hoje tão exigente como antigamente se era. Outras vezes diz-se que o ensino actual é mais avançado e exigente, pois se pede aos estudantes uma atitude interpretativa e crítica, e não a memorização de factos ou a capacidade de cálculo.A realidade é que, sem conhecer factos e sem capacidade de cálculo, não se sabe como se pode ter uma atitude interpretativa e crítica. E a realidade também é que basta abrir algumas provas de há 20 anos e algumas actuais para ficarmos preocupados. Seria bom conhecer melhor em que medida o nível de exigência dos exames se degradou, se é que, como julgamos, se degradou de facto continuamente. Mas para isso seria necessário um estudo comparativo sério, que não se conhece. Não negando uma evolução dos exames, que acompanhou alguma evolução dos programas e dos tempos e nos trouxe tópicos mais actuais e contextos mais modernos, há traços muito preocupantes nas provas actuais. O primeiro é o seu diminuto grau de exigência. O segundo é a insistência infantilizante na contextualização, que é inimiga da capacidade de abstracção. O terceiro é a trivialidade extrema dos cálculos e procedimentos testados. Os últimos exames de Matemática do 9.º ano aproximam-se perigosamente de ser apenas testes que basta ter bom senso para resolver e em que a matemática se reduz a banalidades.Vivemos num mundo moderno que não se compadece com a ignorância técnica e com a incompetência. Quem compete com os jovens que estamos a educar são os da Europa, da Ásia e de todo o mundo. A educação é fundamental para o nosso desenvolvimento e a matemática uma alavanca decisiva desse progresso. Não podemos continuar prisioneiros de ideias pedagógicas retrógradas que atrasam o nosso ensino. Há a tentação de pensar que temos à nossa frente todo o tempo do mundo. Não o temos. Todos os anos, meses e dias que se percam na educação são décadas de atraso do país. Não vale a pena fingir. [Público, de hoje]

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