27/06/09

Um outro cristianismo

O GRANDE SILÊNCIO (Die Große Stille) de Philip Grönning (2005)

Há, contudo, no marxismo um falso misticismo e uma falsa religiosidade suficientes para seduzir aqueles que sentem fome de algum substituto da religião espiritual. Não há dúvida que a exigência de “fé” e de auto-sacrifício feita pelo marxismo é uma realidade humana muito mais sólida do que a irresponsável pseudo-cristandade que ainda floresce em certas sociedades devotadas inteiramente aos valores seculares. Mas há algum perigo espiritual no marxismo e na pseudo-contemplação que a sua visão do mundo implica. Este perigo resido no apelo cripto-religioso que ele oferece àqueles que não têm estômago para as formas vazias da religião popular, na qual o conceito “deus” morreu de exaustão. [Thomas Merton, The Inner Experience]

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Este texto de Merton é interessante não apenas por mostrar a estrutura cripto-religiosa do marxismo militante, mas pela crítica que faz às formas vazias de um cristianismo ora perdido nos valores seculares, ora preso na religiosidade popular. Mas abre também a porta para se pensar como uma outra forma de entendimento do religioso pode ter sentido nas sociedades modernas. A religião deverá ser menos código moral e mais experiência espiritual. Se o cristianismo ainda puder falar aos sectores mais diferenciados do Ocidente, será pela vertente da experiência espiritual e não da codificação dos comportamentos. Será um cristianismo mais próximo do originário e menos um cristianismo medieval ou da Contra-Reforma. Mas este será sempre um cristianismo dirigido a uma elite espiritual. Como poderá o Cristianismo falar para a massa que perdeu, em primeiro lugar, para o marxismo e, depois, para o consumo e a ideologia niilista que impregna os mass media?

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