25/06/09

Como se produz o niilismo em educação?


O niilismo pode ser entendido, de uma forma muito geral, como a desvalorização de todos os grandes valores tradicionais. Mais, o niilismo é a morte do próprio sentido das coisas. De certa forma, as sociedades modernas e contemporâneas são produtoras de niilismo. A sua essência é a contínua desvalorização dos valores, a destruição dos núcleos de sentido que constituem as tradições humanas. Como se produz o niilismo?

Olhemos para a notícia que origina o post anterior. Um dito especialista canadiano em tecnologia assiste em Portugal a uma aula e conta "como os alunos recorreram à Internet para resolver uma questão colocada pelo professor: para saber o que era um equinócio, grupos de alunos pesquisaram a informação e quem a descobriu primeiro explicou-a aos colegas".

Quem é professor percebe, de imediato, que o acontecimento é absolutamente banal. O que aconteceu com a Internet poderia acontecer com enciclopédias em papel, com livros da especialidade, com um texto dado pelo professor ou com o próprio manual da disciplina. Mas este acontecimento banal, acontecimento que apenas prolonga uma forma de trabalhar antiga é visto como um acontecimento excepcional, inovador e símbolo de uma revolução a fazer.

O que significa aqui "revolução"? Destruição da tradição de ensino, destruição dos valores que permitiram construir o conhecimento, incluindo o conhecimento que deu origem aos computadores e à Internet. A partir deste exemplo absolutamente marginal, erige-se toda uma concepção de ensino que é apresentada como inovadora, mas da qual é erradicado de facto todo o acto de ensinar. Fazer a vontade a este senhor Tapscott significa reduzir toda a tradição de ensino a zero e com isso reduzir o ensino à pura nulidade. O professor já não ensina. Mas compreende-se, se não se for ideologicamente cego, que concomitantemente também o aluno não aprende. E é isto que está a emergir em muitos sítios do Ocidente.

Não pense o leitor que sou retrógrado tecnológico. Sou dos professores mais antigos a usar computador em tarefas educativas. Incremento o uso da Internet na pesquisa e das ferramentas que ela disponibiliza como apoio à aprendizagem. Isso, porém, não implica qualquer dissolução da minha responsabilidade última em ensinar os meus alunos, de viva voz, falando com eles, expondo e discutindo, reflectindo em conjunto. É para isto que servem os professores, não para gerir aprendizagem ou a utilização de gadgets.

Estes inovadores tecnológicos, estes inspectores Gadgets, que pululam em torno da educação, são um dos principais perigos para o futuro do Ocidente. São portadores de uma barbárie que visa reduzir a nada tudo o que construímos. Não sei se o Ocidente terá forças para resistir a esta barbárie nascida no seio da própria ciência, nascida de uma perversão ideológica que existe na transformação do conhecimento científico em tecnologia. O próprio poder político ocidental se transformou numa fonte de barbárie e de produção de niilismo. Se não for possível parar esta gente, então pagaremos muito caro a nossa impotência.

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