Do "à socapa" à prestidigitação
O Público de hoje traz duas referências à natureza da política educativa dirigida por Maria de Lurdes Rodrigues. Comecemos pela última página e pela secção "Sobe e desce". A Maria de Lurdes Rodrigues foi atribuída uma seta para baixo, e o texto diz tudo: "Não é transparente nem honesto que o Ministério da Educação altere à socapa, no seu site, o enunciado de um exame que entregou com um erro aos alunos." É preciso, porém, lembrar de que este "à socapa" está na génese da política educativa deste governo. Se se ler hoje o programa que o PS apresentou em 2005 a sufrágio (pp. 44 e seguintes), percebe-se que muito do que aconteceu nas escolas está lá, mas "à socapa". Está apresentado de uma forma geral sem que seja possível deduzir quais as acções concretas que serão tomadas. Com o mesmo programa poder-se-ia fazer coisas diametralmente opostas. Esta má-fé política constitui o fundamento da acção governativa a nível da educação. O truque com a prova de Biologia é apenas um pequeníssimo exemplo de uma atitude geral do partido do governo na área educativa.
Mas o título de primeira página do mesmo jornal mostra um outro e gravíssimo problema na educação. Diz o título: «Boas notas nas provas de aferição voltam a não convencer professores», e logo de seguida acrescenta: «Regressa crítica às facilidades em Língua Portuguesa e Matemática. "Só falta escreverem os textos" pelos alunos, dizem os docentes de Português.»
O problema reside na má-fé política originária ter desencadeado uma enorme vaga de contestação e o governo ter respondido com a politização dos exames. Politizar os exames significa entendê-los como prova da justeza da acção governativa. Ao politizar os exames, o governo governamentalizou-os. Ao governamentalizá-los, o governou partidarizou os exames nacionais. São agora usados como matéria de propaganda das mirabolantes políticas educativos do extraordinário ministério. Este truque está a desvalorizar o valor social dos exames. Por muito que Lurdes Rodrigues, o inefável Valter Lemos, ou o engenheiro Sócrates falem da evolução na educação, ninguém na sociedade civil acredita e as pessoas começam a convencer-se de que os exames são mesmo facilitados para que toda a gente tenha direito ao sucesso, quer trabalhe ou não, e o governo tenha o sucesso eleitoral que deseja. Os próprios alunos sabem disso e dizem-no às televisões. Esperam exames fáceis, pois estamos em ano de eleições. A crise na credibilidade do sistema nacional de exames e de provas de aferição vai levar anos a ser corrigida, se é que o próximo governo vai estar interessado em corrigi-la. O "à socapa" inicial transformou-se numa enorme manobra política de prestidigitação com a finalidade de mostrar como boas as péssimas medidas de política educativa. Quem paga isto? Os alunos e o país.
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