Do "à socapa" à prestidigitação

Mas o título de primeira página do mesmo jornal mostra um outro e gravíssimo problema na educação. Diz o título: «Boas notas nas provas de aferição voltam a não convencer professores», e logo de seguida acrescenta: «Regressa crítica às facilidades em Língua Portuguesa e Matemática. "Só falta escreverem os textos" pelos alunos, dizem os docentes de Português.»
O problema reside na má-fé política originária ter desencadeado uma enorme vaga de contestação e o governo ter respondido com a politização dos exames. Politizar os exames significa entendê-los como prova da justeza da acção governativa. Ao politizar os exames, o governo governamentalizou-os. Ao governamentalizá-los, o governou partidarizou os exames nacionais. São agora usados como matéria de propaganda das mirabolantes políticas educativos do extraordinário ministério. Este truque está a desvalorizar o valor social dos exames. Por muito que Lurdes Rodrigues, o inefável Valter Lemos, ou o engenheiro Sócrates falem da evolução na educação, ninguém na sociedade civil acredita e as pessoas começam a convencer-se de que os exames são mesmo facilitados para que toda a gente tenha direito ao sucesso, quer trabalhe ou não, e o governo tenha o sucesso eleitoral que deseja. Os próprios alunos sabem disso e dizem-no às televisões. Esperam exames fáceis, pois estamos em ano de eleições. A crise na credibilidade do sistema nacional de exames e de provas de aferição vai levar anos a ser corrigida, se é que o próximo governo vai estar interessado em corrigi-la. O "à socapa" inicial transformou-se numa enorme manobra política de prestidigitação com a finalidade de mostrar como boas as péssimas medidas de política educativa. Quem paga isto? Os alunos e o país.
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