22/06/09

O nascimento da UDP em Torres Novas

Primeiro símbolo da UDP

Continuando com o exercício de memória política: como nasce da UDP em Torres Novas? Antes, um pouco de história da organização. Tanto quanto me recordo, a UDP nasce da confluência de três grupos “m-l” (marxistas-leninistas), de orientação maoísta. São eles, o CARP-ML (Comités de Apoio à Reconstrução do Partido- Marxista Leninista), fundado em 1973, e que tinha militantes como Francisco Martins Rodrigues, João Pulido Valente e Rui d’Epinay, o CCRML (Comités Comunistas Revolucionários Marxistas Leninistas), fundado em 1969, e onde se podiam encontrar como militantes João Bernardo (um grande teórico da extrema-esquerda), Acácio Barreiros, Mariano Gago e Jorge Coelho (sim, esses mesmos), e a URML (Unidade Revolucionária Marxista Leninista), fundada em 1971. São este três grupos que dão origem à UDP em finais do ano de 1974. Não vejo aqui, prolongando a conversa do post anterior, qualquer presença dos grupos católicos. Mas descortina-se a presença de muitos estudantes ligados ao Instituto Superior Técnico, também antigos quadros do CMLP (Comité Marxista Leninista Português), resultante da cisão original no PCP dos maoístas portugueses.

O núcleo UDP de Torres Novas nasce ligado a uma estrutura muito curiosa. No Entroncamento havia um grupo maoísta com certo peso (ainda se reflecte hoje na votação do BE) que não pertencia a nenhum dos grupos referidos anteriormente e estava organizado em torno do jornal Ribatejo na Luta. Desse grupo, havia gente com ligações ao IST, entre eles o José Manuel Alcobia, falecido há muito. Esse grupo participa na fundação da UDP, mas de forma autónoma, sem filiação em nenhum grupo "ml". Foi no contacto com essas pessoas, nomeadamente com um estudante do Técnico, e hoje professor na Universidade de Coimbra (aliás um tipo absolutamente notável, que tinha um Citroën 2 cavalos, que metia água por tudo o que era sítio, e possuía uma belíssima colecção de música clássica, com a qual me iniciei verdadeiramente nessa música), que estava destacado na região para fazer trabalho político (era assim que se falava na altura), que nasceu a UDP de Torres Novas. Ainda me lembro de quem foram os fundadores (quase tudo gente pouco mais do que imberbe), mas não vou referir nomes. Um deles era eu (também pouco mais do que imberbe). Refiro apenas que havia um professor da escola secundária (hoje, ES Maria Lamas) que também tinha sido formado pelo Técnico. Era na casa desse professor que decorriam as reuniões do partido. Depois, a UDP alugou uma sede em frente à antiga Tipografia Conde Marques. Não me recordo agora o nome da rua e o prédio já não existe. Às vezes, penso que alugaram a casa para sede da UDP com medo das ocupações, muito em moda na época. O preço da renda era 300 escudos, que foram pagos escrupulosamente, pelo menos até à altura em que saí. Mas as pessoas eram cordatas e honestas e o ímpeto revolucionário era mais fruto da época do que condição natural das pessoas, digo eu. Muitas dessas pessoas não têm, hoje em dia, nada a ver com essas opções do passado. Julgo que, como eu, abandonaram, com uma ou outra excepção, a política activa. Ideologicamente não sei onde se situam. Como é público e notório, eu não me situo, nem de perto nem de longe, nas proximidades daquilo que eram as minhas opções há mais de 30 anos. Nem sequer consigo dizer se há alguma linha de continuidade entre o Bloco de Esquerda local e o antigo núcleo da UDP.

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