Versículos bíblicos - 1
“Também não tomarás presente: porque o presente cega os que o vêem, e perverte os negócios dos justos” (Êxodo, 23, 8). Eis um conselho para todos os tempos e não apenas uma ordem de Deus para Israel, o seu povo. No centro da palavra divina, não está a corrupção. Ela é apenas periférica. A ideia central é outra: o presente cega os que o vêem. Mas o que significará tal cegueira? Há por detrás da construção bíblica toda uma metafórica da luz. O presente, no excesso da sua luz, como o Sol, acaba por cegar. Ora a cegueira não é a dos olhos, mas a da luz da razão. Esta inclina-se para aquilo que brilha e, por esse excesso de luz, a dissolve, como a luz de uma lâmpada é dissolvida pela luz do dia. A dissolução da luz da razão que o presente – e aqui presente é sempre algo que se torna presente – traz consigo implica a entrada na esfera de uma economia do dom; a um presente recebido corresponde um presente a dar. É nesta troca, onde a razão se inclina e dissolve, que se inscreve a perversão da justiça.
O que o texto bíblico nos mostra é que a perversão dos costumes nasce de uma perversão da razão. Este é o princípio do mal. Mas como é esta concebida na passagem citada? Como frágil. A metáfora da cegueira, o negativo da metáfora da luz, mostra a razão na sua fragilidade e, por isso, susceptível de corrupção. Contra isso, apenas o imperativo divino “também não tomarás presente”. Este imperativo divino é, porém, toda a lei, a de Deus e dos homens.
Numa curta frase encontramos quase toda a filosofia moral kantiana. Mas só a vemos, porque Kant a trouxe à luz e soube ver a estrutura racional sob as imagens religiosas.
O que o texto bíblico nos mostra é que a perversão dos costumes nasce de uma perversão da razão. Este é o princípio do mal. Mas como é esta concebida na passagem citada? Como frágil. A metáfora da cegueira, o negativo da metáfora da luz, mostra a razão na sua fragilidade e, por isso, susceptível de corrupção. Contra isso, apenas o imperativo divino “também não tomarás presente”. Este imperativo divino é, porém, toda a lei, a de Deus e dos homens.
Numa curta frase encontramos quase toda a filosofia moral kantiana. Mas só a vemos, porque Kant a trouxe à luz e soube ver a estrutura racional sob as imagens religiosas.
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