07/05/07

Aparências 3 – Prós e Contras: Choque de Valores?

O Partido Comunista está indignado com a não participação de nenhuma personalidade da sua área no programa Prós e Contras. Neste caso, o PCP tem razão e a razão é-lhe dada não tanto por não haver nenhum comunista para debater o tema «choque de valores», mas por não estar presente ninguém da sua área para discutir aquilo que vai ser efectivamente discutido: política.

De facto, a RTP, na informação sobre o programa, centra toda a discussão não no choque de valores de carácter ético ou civilizacional, mas em temas políticos conflituais (as eleições francesa e madeirense, a questão de Lisboa, a direita e a esquerda, as agendas políticas e o significado destes conceitos). A RTP ao escolher personalidades políticas partidariamente conotadas (no activo ou relativamente retiradas) deu um cunho bastante partidário ao tema e discriminou uma das forças políticas mais importantes.

Esta discriminação, porém, é apenas o véu que cobre uma situação que julgo bastante mais grave e que se liga com o pluralismo político que a RTP deveria respeitar escrupulosamente. É inaceitável que personalidades claramente alinhadas com o PSD e o PS tenham programas de comentário político na RTP, refiro-me a Marcelo Rebelo de Sousa e António Vitorino, enquanto os outros pontos de vista com clara representação nacional estão excluídos (PCP, CDS e BE). Isto acaba por induzir sistematicamente na opinião pública a existência de apenas dois pontos de vista possíveis - muitas vezes, estes dois pontos de vista são apenas um - e a eliminação de outras perspectivas sobre os problemas. Por brilhantes que sejam Rebelo de Sousa e António Vitorino, e são-no, não deixam de fazer parte de uma certa urdidura cuja finalidade é «achatar» a opinião disponível na esfera pública portuguesa e, dessa forma, empobrecer a democracia.

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