22/05/07

Novas oportunidades, novos oportunismos

Do excelente artigo de Santana Castilho, no Público de hoje, alguns excertos sem comentários, a não ser o seguinte: palavras para quê, é um artista português.

Impressionam os números da adesão ao programa governamental Novas Oportunidades: mais de 250 mil querem certificar-se com o ensino básico e cerca de 75 mil com o secundário. E mais impressiona se recordarmos que, há escassos meses, o tema foi destaque repetido na imprensa, após inquérito de âmbito europeu, por sermos os que menor disponibilidade manifestávamos para regressar à escola e menos valorizávamos a necessidade de formação ao longo da vida. Neste quadro, faz sentido perguntar: que terá acontecido, para tão grande mudança de atitude, em tão escasso tempo? Da multiplicidade de factores que integram uma possível resposta, destaca-se o oportunismo e a leviandade com que se procura popularizar e facilitar o que suporia trabalho acrescido e sacrifício pesado. O decoro profissional aconselha a não descrever como, em muitos centros, meia dúzia de meses, a tempo parcial, chegam para certificar o conhecimento que exige, no quadro tradicional, cinco anos de escolaridade, a tempo integral.

Se a iniciativa visa um enriquecimento pessoal, de âmbito mais geral, designadamente um grau escolar, então, não há milagres: a maturidade e o esforço poderão compactar cinco anos em dois ou três, mas não, certamente, em poucos meses; se o conhecimento existe e só não está certificado, um exame sério será instrumento adequado. Mas é sórdido substituí-lo por tretas ridículas, para engrossar estatísticas que a todos enganam. E convirá sempre clarificar que certificar o conhecimento que um adulto tem em determinado momento da vida, tornando-o equivalente a um grau académico, supõe regras básicas a que nunca nos poderemos eximir, sem risco de profunda desonestidade. Quando se outorga um diploma de estudos básicos ou secundários a alguém, estamos a dizer à sociedade que esse indivíduo domina um conjunto de conhecimentos considerados absolutamente obrigatórios e um conjunto de outros que os complementam e que poderão ser diferentes, consoante percursos de vida também diferentes.

1 comentário:

jlf disse...

Também li e também aplaudi.
(Quero lá bem saber qual a cor política do senhor...)