05/05/07

Cardílio - XIII

Quando os archotes ébrios, os teus dedos,
Incendiaram na noite a branca cólera,
Gritaste como só uma mulher grita,
No pavor arruinado de uma súplica.

Alucinada rosa desvairada,
Os dias aos dias seguiram imperfeitos
Como estátuas dum deus alucinado
Preso em polida pedra calcinada.

Não há mãos pelos seios, nem alegria
No teu doce cantar. Apenas mágoas
Te recolhem na fístula da tarde.

Aí, na flâmula acesa, transfigura-se
Em voz o débil sopro que dos lábios
Sai, como se a manhã a noite roubasse.

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