21/05/07

Cardílio - XXIII

Dois mil anos. Seremos de amanhã
As ruínas, traídos pelo voo
Do corvo, pelas árvores cansadas
Do jardim. Não haverá na forte seiva

Um fragmento do olhar, a voraz célula
No cerne a morte tem anunciada.
Cardílio, de ti irmão sempre serei
Na planície de pó, nas águas rasas

Que, no Inverno, do rio para o mar correm.
Será a aurora negra em cada dia
E na espuma das horas ouviremos

O lamento dos pássaros de Apolo,
Belo na agonia próxima, ditoso
Pois seremos nós tão cedo a cantá-lo.

1 comentário:

jlf disse...

Anoto: “Seremos de amanhã as ruínas, traídos (...) pelas árvores cansadas do jardim. Não haverá na forte seiva um fragmento do olhar”...