Algumas Dádivas - 2. Ar
O ar cobria de sombras o rosto.
E em cada boca havia uma roseira
onde nascia leve e suado o mosto.
[Micropoemas, "Algumas Dádivas"]
A verdade é um erro exilado na eternidade. (Cioran)
O ar cobria de sombras o rosto.
E em cada boca havia uma roseira
onde nascia leve e suado o mosto.
[Micropoemas, "Algumas Dádivas"]
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No fruto, pulsa o ventre;
e o corpo acetinado e sujo
é esmagado na semente.
[Micropoemas, "Algumas Dádivas"]
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Meredith Monk, Volcano Songs. A autora “integra” a vanguarda musical que faz uma aproximação entre o jazz e a música erudita e, no caso dela, a música para teatro. O resultado é, por norma, bastante interessante e consistente. Na entrevista inserta no booklet que acompanha o disco, Monk, a uma pergunta sobre as suas raízes musicais, responde: “Sempre me senti como fazendo parte daquilo que penso ser a tradição independente americana. Estranhamente, muita actividade dessa tradição ocorreu na Costa Oeste levada a efeito por indivíduos que não seguiam o caminho da tradição europeia, mesmo se nela tinham sido formados. Senti-me, muitas vezes, muito próxima dessa forma de pensar.” Esta tradição remete para figuras John Cage, Henry Cowell, Lou Harrison, Steve Reich, Terry Riley, entre outros.
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A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.
In O Amor Natural, 1992
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Com A língua lambe concluiu-se uma série de poemas dedicados ao grande autor de língua portuguesa, Carlos Drummond de Andrade. Estes poemas constam da edição da Poesia Completa de Carlos Drummond de Andrade, publicada, em volume único, pela Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 2006 (a edição original é de 2002), 1599 pp. É uma bela edição em papel bíblia e com caixa cartonada. É o que se poderá chamar uma bela prenda para um amante de poesia, passe a publicidade. A Introdução é de Silviano Santiago e a fixação de textos e notas de Gilberto Mendonça Teles.
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Triste tristeza. Olho a fotografia e tenho vontade de corar. De vergonha, claro. Sócrates e mais uns maduros interrompem o natural fluir da vida quotidiana dos moscovitas, apenas para um exercício que combina a propaganda mais descarada (será que temos um novo SNI?) e o narcisismo mais insuportável. Que inteligência política terá um homem que se permite tal espectáculo? Não terá percebido Sócrates que toda a gente sabe que nada naquela corrida é verdadeiro? Que ela não leva a lado nenhum? Não perceberá que aquilo é a confissão da sua nulidade enquanto figura política? Ele pensa que acreditam que o jogging é o símbolo da sua modernidade?
te pouco recomendável. Quem pensa Sócrates que é, para dar tão triste espectáculo? Ele achará que Putin e os russos ficarão embevecidos com os seus dotes atléticos? Ou aquilo dirige-se aos cafres que governa?
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Marcadores: Política
E tudo que eu pensei
e tudo que eu falei
e tudo que me contaram
era papel.
E tudo que descobri
amei
detestei:
papel
Papel quanto havia em mim
e nos outros, papel
de jornal
de parede
de embrulho
papel de papel
papelão.
In As Impurezas do Branco, 1973
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O Teatro Virgínia foi palco da apresentação, no sábado passado, da peça Macbeth, de William Shakespeare, numa encenação de Bruno Bravo e com João Lagarto como protagonista.
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Começou festiva a semana:
espiávamos por uma frincha
a vitória, e eis que ela fulgura,
rosa aberta aos pés de Garrincha.
Ai, emoções de Gotemburgo!
Futebol que nos arrebatas,
esse rugir de alto-falante
vale mozartianas sonatas.
E torço firme a vosso lado,
cidadãos que morais no assunto,
embora entenda de pelota
simplesmente o que vos pergunto.
Quem ganhou foi o Botafogo,
canta o severiano, alma leve.
Exclama junto um pena-boto:
— É, e quem perdeu foi Kruchev.
Entre estouros, risos, foguetes,
assustado, lá foge o pombo
que bicava milho na praça,
mas surge Adalgisa Colombo,
escultura, graça alongada,
e a seus munícipes ensina
que entre todos os bens da terra
a beleza é graça divina.
E talento é a suprema dádiva:
penso nisso ao ver Pinga-Fogo
no Dulcina, e a rara Cacilda
em seu sutilíssimo jogo
de emoção: a infância pisada,
um murmúrio de pai a filho,
diálogo obscuro das almas
para quem o sol é sem brilho.
E que delícia O Protocolo,
velho Machado sempre novo!
Nosso teatro já floresce,
não é pinto a sair do ovo.
Mas nem tudo foram ditosas
horas no tempo brasileiro:
O vento no Convair, e a chuva.
A morte estava num pinheiro.
A morte estava à espera, surda,
cega a toda humana piedade.
E esse indecifrável mistério,
inscrição chinesa no jade,
faz baixar um crepe silente
sobre os gaios fogos votivos.
Que João e Pedro, das alturas,
suavizem a pena dos vivos.
E vem outro, mais outro dia.
Paira a esperança, junto à fé.
A bola em flor no campo: jóia,
E seu ourives é Pelé.
In Versiprosa, 1967.
[Dedicado por um benfiquista a todos os portistas e sportinguistas, adeptos de poesia, pelos triunfos do ano.]
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Vendo o retrato de Maria, filha de
Sophia de Mello Breyner Andresen.
CONHECER de retrato é conhecer
uma cintura sombra de outra, apenas?
Ou será que em instantânea descoberta,
Maria,
as almas passam na fotografia?
A tua vislumbrei, e ela sorria.
In Viola de Bolso, 1952.
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Para o resto do fim-de-semana uma ópera em três actos. Dois acontecimentos convergiram para esta proposta. Por um lado, os meus alunos de Filosofia estão a fazer um trabalho sobre desobediência civil e a sua conexão com os direitos humanos. Por outro, consegui adquirir, depois de uma longa procura, a obra em causa.
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Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.
Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.
Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo,
eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.
In Claro Enigma, 1951.
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Marcadores: Pensar
No país dos Andrades, onde o chão
é forrado pelo cobertor vermelho de meu pai,
indago um objeto desaparecido há trinta anos,
que não sei se furtaram, mas só acho formigas.
No país dos Andrades, lá onde não há cartazes
e as ordens são peremptórias, sem embargo tácitas,
já não distingo porteiras, divisas, certas rudes pastagens
plantadas no ano zero e transmitidas no sangue.
No país dos Andrades, somem agora os sinais
que fixavam a fazenda, a guerra e o mercado,
bem como outros distritos; solidão das vertentes.
Eis que me vejo tonto, agudo e suspeitoso.
Será outro país? O governo o pilhou? O tempo o corrompeu?
No país dos Andrades, secreto latifúndio,
a tudo pergunto e invoco; mas o escuro soprou; e ninguém me acordou
Adeus, vermelho
(viajarei) cobertor de meu pai.
In A Rosa do Povo, 1945.
[Dedicatória especial a todos os Andrades de cá]
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E o amor sempre nessa toada:
briga perdoa perdoa briga.
Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece.
Só o amor volta para brigar,
para perdoar,
amor cachorro bandido trem.
Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?
Mariquita, dá cá o pito,
no teu pito está o infinito.
In Alguma Poesia, 1930.
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Todas as semanas, à 4.ª feira, uma proposta musical. De fora fica a música erudita.
saios de Amália com Alain Oulman ao piano. O nome tem um carácter depreciativo e era a expressão de um certo ressentimento por parte dos guitarristas relativamente ao papel que o piano começava a desempenhar no mundo do Fado. O CD é completado com uma entrevista feita por Henrique Mendes a Amália, Alain e David Mourão-Ferreira, em 1962, ano de saída do “Busto”.
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Marcadores: Música
Nestas pedras tão rasas, o meu corpo
A tua carne deseja e, na brancura
De teus dedos, o rosto se suspende
Do voo mudo dos séculos. Efémero
Tijolo sob as ancas te sustenta,
Te rouba à gravidade e te suspende,
Na passagem de minhas mãos em alva
Face já pelo Outono cariada.
Na cicatriz dos gestos, na passagem
Oculta dessas mãos, abre-se o mundo
À névoa branca e fétida das pétalas
Em decomposição. Caminharemos
Pelas ruínas dos dias e abraçados
Deixaremos os campos, rios e as águas.
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Com o texto de hoje concluiu-se a publicação sobre, ou a partir de, Cardílio, uma meditação sobre tempo e a sua passagem.
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Marcadores: Fotografia
Dois mil anos. Seremos de amanhã
As ruínas, traídos pelo voo
Do corvo, pelas árvores cansadas
Do jardim. Não haverá na forte seiva
Um fragmento do olhar, a voraz célula
No cerne a morte tem anunciada.
Cardílio, de ti irmão sempre serei
Na planície de pó, nas águas rasas
Que, no Inverno, do rio para o mar correm.
Será a aurora negra em cada dia
E na espuma das horas ouviremos
O lamento dos pássaros de Apolo,
Belo na agonia próxima, ditoso
Pois seremos nós tão cedo a cantá-lo.
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Desceram nesta terra como pássaros
Perdidos no horizonte. Não traziam
Asas, nem sabiam como cantar frias
Canções de amor e guerra. Desejavam
A luz entontecida das manhãs,
Os animais bravios a galopar,
O crime delicado do perfume
Das esquivas mulheres pela cama
Derrubadas. Do pó livre de Itália
Vieram, as cidades por fazer
Chamavam-nos no sono vivo e tépido
Da manhã. Embriagados pelo estio,
Caíram no restolho delicado
Da seara lilás por germinar.
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Marcadores: Política
Por essa lei, Cardílio, um mundo vinha
Sobre a paisagem, frutos maturavam
Na lenta pulsação das verdes árvores,
Que em Agosto sorriam pela canícula.
Regias os dias, as noites, com imóvel
Mão. Uma ordem ao mundo vinha, sôfrega,
Inclemente, dorida e pura como
Uma canção no estio silenciada.
Os carros foram, longe é a sua casa,
E ninguém quer as árvores plantadas
Nos teus jardins. Restou-te o parco nome,
Tesselas de mosaico, dizem, ânforas
Perdidas, vidros, mármores e um deus
Vivo na nitidez da branca estátua.
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(Delacroix, Liberdade guiando o Povo)
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Há tempos, João Bénard da Costa dizia, na sua crónica semanal no “Público”, que João Ferreira Annes d’Almeida é um dos grandes mestres da língua portuguesa. Quem será este João d’Almeida? É o tradutor, julgo que o primeiro, da Bíblia para Português. Converteu-se ao protestantismo e toda a sua vida foi dedicada à tradução das Escrituras. Viveu no século XVII. Mas não é do tradutor que quero falar, mas da qualidade literária da sua tradução. Comparemos duas traduções dos mesmos versículos:
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Marcadores: Literatura, Pensar
Em Agosto descemos por atalhos.
Castanheiros na estrada debruçados,
Sombras de cinza e luz em tardias flores
Tingidas pelo aroma das colinas.
Na leveza dos dias que, amargos, correm,
Nas horas cintilantes em que a chuva
Sobre a terra desaba, sopram ventos
Em combustão, violetas arrancadas
À tranquila alegria do negro prado.
Era o tempo dos mortos, das vielas
Incendiadas, das hortas perseguidas
Pelo orvalho azulado da manhã.
Pela tua mão, o jardim de areia cresceu
Entre a melancolia da erva-canária.
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Marcadores: Poesia - em mim
Helena Roseta vai recorrer da data das eleições para a Câmara de Lisboa. Tem toda a razão. Parece haver aqui uma tentativa para impedir coligações e listas de independentes. Tirando o CDS, os partidos «grandes» estão calados. A atitude é muito interessante. Foram os partidos que criaram o imbróglio das listas de independentes, mas agora parece não lhes convir e tentam impedir o seu aparecimento através de uma manobra táctica.
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Marcadores: Política
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Marcadores: Educação
Há injustiças que se cometem sem querer. Ontem, ao falar dos “meus” clubes da primeira-divisão, esqueci os do Barreiro. Para dizer a verdade, o esquecimento só é grave para o Barreirense, o mais popular clube do Barreiro. É verdade que a CUF, a determinada altura, teve um maior impacto no futebol nacional, mas quem gostava de um clube com nome de empresa? Depois, como benfiquista, como esquecer que foi do Barreirense que vieram alguns dos grandes jogadores do clube da Luz? Nessas transferências, que começaram por volta de 1920, salientaria cinco excepcionais jogadores: o guarda-redes Bento, os extremos José Augusto (à direita), Chalana (à esquerda), o médio Carlos Manuel, que depois jogou no Sporting, e o defesa, já não me recordo se direito se esquerdo, Adolfo. No outro lado da defesa, jogava o Malta da Silva. Como é que sei tudo isto? Por acaso, fui ter a um blogue barreirense. Num “post” está o plantel do Barreirense para as épocas 64/65, 65/66 e 66/67. Há lá nomes de que me recordo perfeitamente. Por exemplo, o guarda-redes Bráulio, os defesas Faneca, Bandeira, Lança, Adolfo (o que foi para o Benfica), Candeias, os médios Mira, Garrido, Nogueira, e os avançados Azumir (julgo que depois foi para o Porto), Ludovico, Mascarenhas (andou pelo Benfica e pelo Sporting) e Testas. Estão lá outros nomes, mas não tenho deles qualquer reminiscência, se calhar nunca me saíram nos cromos da bola. Dos nomes aqui referidos julgo que ouvi e vi, alguns, como jogadores do Desportivo de Torres Novas. Será possível?
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Marcadores: Futebol, Ocasionália
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A sentença feroz do deus, Cardílio,
Em ti se abateu. És caduca árvore
Que as folhas não retém, ardósia frágil
Que ao vento se derrama. Nem a chama
Das horas te ilumina, nem as ervas
Do seco chão se curvam na voragem
De teus pés, tão despidos na planície,
Que para última casa então te deram.
Tribunal inflexível te julgou
No fulgor da manhã. Rude destino
Os deuses declinaram em teu rosto:
Nada escutas e nada sabes, pálido
Guerreiro de perdida e árida guerra.
Ao longe ecoa a canção vazia da terra.
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Marcadores: Poesia - em mim
O Bloco de Esquerda apresentou uma proposta de lei que permitiria o divórcio apenas por decisão de um cônjuge. A ideia, aliás interessante, é desvincular o divórcio da culpa. Hoje se alguém se quer divorciar, e não houver acordo para o triste desenlace, o que pretende a separação tem de culpar o outro de alguma coisa que permita um divórcio litigioso.
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Marcadores: Futebol, Ocasionália
O olhar perdido nestas ruínas busca,
Em desespero animal, o que a vida
Deixou, no seu cansado e fugaz passar.
A efémera violeta, a rosa branca,
A erva rala, o verão já devorado.
No fulgor das colinas, na oliveira
Por musgo maculada, crescem pálidas
Anémonas, sombrias ervas de Outono.
Onde está a viva chama, o fatigado
Olhar logo descai, procura a doce
E suave pena, a dor tanto lhe dói.
Aqui riram infâncias, vozes últimas,
Que ruíram fulminadas pelos pássaros
De fogo no alumínio azul da cal.
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Estes [os admitidos ao noviciado na escola pitagórica] a princípio chamavam-se, no período em que deviam calar-se e escutar, acústicos [ou acusmáticos, i. é, aqueles que ouvem]. Mas, quando aprenderam as coisas mais difíceis entre todas, isto é, a calar-se e escutar, e começaram a adquirir erudição no silêncio, o que era chamado “echemuthia”, adquiriam então a faculdade de falar e fazer perguntas e escrever o que haviam sentido e exprimir o que pensavam. Em tal período chamavam-se matemáticos, derivando esse nome daquelas artes que começaram a aprender e meditar: pois os antigos gregos chamavam “mathémata” [ciências] à Geometria, à Gnomónica, à Música e às outras disciplinas mais elevadas. Depois, adornados com tais estudos de Ciência, começavam a considerar a obra do mundo e os princípios da natureza e, então, eram finalmente chamados “físicos”. [Tauro, citado por A. Géllio, Noites Áticas, I, 9]
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Seriam hábeis amantes os que nesta
Casa amaram? E no grito dessa noite,
Deixariam os homens a sua língua
Perder-se nos recantos fatigados,
Na relva crespa, esparsa das mulheres?
Que incêndios os fizeram tão felizes?
Oiço nesse horizonte gritos breves
E puros, oiço a morte, na sua azáfama,
Percutir na penosa e dura pedra
Da vida, oiço os sinos das aldeias
Por vir, depois de ti, pobre Cardílio.
De ti que só a ruína do amor salvou
Do eterno esquecimento. Canta, pois,
De Avita o sangue no Orco tenebroso.
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A crítica portuguesa arrasou o filme, o qual não passaria de um conjunto de estereótipos e banalidades sobre o pintor americano Jackson Pollock (interpretado pelo próprio realizador, Ed Harris, bastante parecido fisicamente com o pintor). Seja como for, crítica e críticos à parte, o filme (estreado em 2001) vale a pena e mostra a vida de um dos grandes pintores do século XX, dando a ver, também, algum do movimento cultural que estava a transformar Nova Iorque no centro da cultura mundial. Cruzam-se no filme Pollock, De Kooning, Tony Smith, todos artistas, o crítico Clement Greenberg e Peggy Guggenheim, uma das primeiras protectoras de Pollock.
Alchemy
Croaking Movement
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Lucernas, vidros, ânforas, pedaços
De vida aqui perdidos, esquecidos
Entre malvas bravias e ruas de mármore.
A vida os deixou pálidos, sonâmbulos,
Ébrios de tanta morte. Nesta casa
Habitaram mulheres, e ferozes
Dedos delas fizeram doce e terna
Habitação. Que nome seria o seu?
Procuro em calendários, na cerâmica
De mármore, na arguta suspensão
Do rosto, p’las veias loucas do marfim…
Na planície, sinistras mãos vazias
Erram entre o cascalho abandonado;
Cantam como só os loucos cantar sabem.
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Marcadores: Literatura
Conto teus dedos um a um, pois são
Sílica, pedra roxa, várzeas calmas
Abertas sobre a foz, onde um rio puro,
De água clara, por mim em brados chama.
Vozes de barro, casas de minério
Vegetal, tudo aberto ao céu que cai,
Como se o vento cálice quisesse
Ser, para nele a ti te recolher.
Deixa vir os relâmpagos, a lua
Fria e mineral. Cantem a luz árida
Das estrelas no sonho descobertas!
Se te toquei no ventre e um incêndio
Alastrou, então deixa que esta mão
Como uma parra em teu seio breve caia.
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