03/05/08

Retiro da Fataça em Foros da Serrada Grande, Boquilobo

Sou um ribatejano um pouco fora de contexto. Não me interpretem mal, até gosto de touradas, embora não seja um aficionado. Não é de toiros que quero falar, mas do peixe que se come pela borda-d’água. Foi preciso chegar ao dia de hoje para comer pela primeira vez enguias. E não bastando isso, adentrei-me pela culinária local e comi também fataça grelhada. Outra vergonha, ligada a esta, é que nunca tinha ido a nenhum dos restaurantes populares do Boquilobo, a aldeia do concelho de Torres Novas que viu nascer Humberto Delgado, e onde há um festival das enguias.

Incitado por um blogue de Ramiro Marques (veja as belas fotografias feitas por Ramiro Marques), lá me tirei de manias e cá vamos à procura do Retiro da Fataça. Onde é, onde não é? E numa reminiscência de carácter platónico ocorreu-me a existência de um tascaréu, mas é mesmo reminiscência, em pleno Paul do Boquilobo. Íamos já bem dentro da estrada do campo quando, por descargo de consciência, pergunto a um transeunte (transeunte era eu, o senhor era agricultor e estava ali a cuidar dos campos) pelo dito retiro. Ele coça a cabeça e diz «ó homem, ele já fechou isso há muito, agora tem uma casa ali para os Foros da Serrada Grande, para os lados do Boquilobo.» E lá apontámos o carro para a terra onde o general sem medo sonhou com aviões e fardas militares.

O Retiro da Fataça é um restaurante popular enorme. O serviço é simpático, a comida generosa, o preço está de acordo com o carácter popular do empreendimento. As enguias fritas demonstraram que eu andava a perder qualquer coisa na vida. Sou assim, um pouco serôdio, lento de raciocínio, mas vou lá chegando. A fataça, embora não destrone o meu sável de estimação, mostra que há mais vida nas águas do rio que o dito sável. É um peixe suculento, de carnadura branca e com sabor delicado. A acompanhar, uma salada mista escorreita e umas migas especiais. Uma espécie de açorda feita com caldo de peixe e tomate, suponho eu. Tudo isto, migas, enguias e fataça foi, por mim, temperado com vinagre onde havia uns piripiris generosos. O efeito, para quem gosta, é espantoso. Para sobremesa, pode-se escolher de uma enorme lista de doces que fazem parte das ementas deste tipo de restaurantes. Acompanhou-se o popular repasto com um tinto Quinta de S. João Batista, ali mesmo ao lado, das caves D. Teodósio. Um vinho de 2004 feito à base de Castelão. Um belo vinho para o preço (7,5€ no restaurante) e que se bateu muito bem com o peixe de rio. A qualidade deste vinho confirma a excelência das terras torrejanas, riachenses no caso em apreço, para a produção vitivinícola.

2 comentários:

zemanel disse...

oh jcm, essa de entrar pela reserva adentro à procura do tasco,não lembra ao diabo, muito menos a um torrejano. Há "Resmas" de anos que a "fataça" mudou de sítio.
Esse erro só é perdoável pela boa escolha vinicola que fez...
Nota: já imaginou a ASAE a entrar pela velha tasca????
Já agora procure na Golegã a adega ribatjana e vá à fataça frita acompanhada com vinho da casa...
Com os meus cumprimentos,
ZéManel.

Jorge Carreira Maia disse...

Este meu erro só é perceptível por uma de duas razões, ou talvez pelo somatório de ambas: 1. tornei-me bastante ermita e afastei-me das coisa mundanas (esta não é má); 2. a minha memória começa a desfazer-se e informação relativamente recente é apagada com facilidade (é provável que eu já tivesse sabido que o tasco tinha acabado).

O vinha da Quinta de S. João Baptista tem vindo a fazer, ao longo dos anos, um bom upgrade, falemos assim para parecermos modernos. Este 2004 surpreendeu-me. Já experimentei outros vinhos das Caves D. Teodósio e não me arrependi. Estou cada vez mais convencido de que o nosso concelho tem uma excelente aptidão para a produção de bons vinhos. Antes da figueira, era o vinho a principal produção agrícola, julgo eu. É provável que o microclima existente e que dava muito açúcar ao figo também seja bom para produção de vinhos macios, calorosos, de taninos redondos. Mas não percebo nada do assunto, mas quando há profissionalismo como no Quinta de S. João Baptista, os resultados são bastante bons.

Obrigado pela sugestão

Abraço,
JCM