18/05/08

O entardecer de domingo

Tardes de domingo. São sonolentas e sombrias essas tardes onde tudo desliza para o amanhã que aí vem. Ao domingo, o tempo acaba ao fim do almoço. Depois é um penoso calvário onde o espírito deambula sem fim ou meta à vista. Há quem vá matar o tempo aqui e ali, mas o tempo já está morto, pois é domingo à tarde. Deixo-me dormitar e ando sonâmbulo pelos mundos que perpassam em mim, promessas nunca cumpridas de milhões de coisas a fazer. Reclino-me na cadeira e flutuo enquanto oiço os ruídos da casa, também eles flutuantes e desesperados pela luz que aos domingos sempre há. Se agora me levantasse e saísse, morreria às mãos dessa secreta atmosfera que, seja Inverno ou Verão, um deus maldoso desenhou para o entardecer de domingo. Ao longe, oiço um cão a latir. Tremo e um pavor de cinza cobre-me o coração. Quem virá? Apenas o dia declina, como se uma sombra quisesse esconder de mim a tarde de domingo que ainda há.

1 comentário:

maria correia disse...

O domingo não deveria existir...ou, então, chamava-se de outra maneira, talvez assim, pelo poder da palavra,esse vago mal-estar domingueiro desparecesse dos mapas; mas há maneiras de o evitar: ir para fora do sítio em que se vive, para bem longe, como faço muitas vezes; ir ao cinema, se possível, ve rlogo duas sessões seguidas. Ou ainda, como faço muitas vezes, fechar-me em casa e traduzir...ou trabalhar em qualquer outra coisa. No meu caso, ajudam bastante, qualquer uma das soluções.