O retorno da igualdade

De um momento para o outro, porém, a questão da igualdade social voltou ao debate e contamina mesmo o discurso de pessoas como Manuela Ferreira Leite. A causa próxima reside no agravamento contínuo do fosso entre ricos e pobres em Portugal, bem como na rarefacção da classe média portuguesa. Aquilo que se passa de forma gravosa em Portugal, passa-se também um pouco por toda a Europa, onde se começa a acentuar o referido fosso.
A construção europeia assentou, durante décadas, num equilíbrio. Este equilíbrio era a realização prática aplicada à política do velho ideal da ética aristotélica: a mesótēs, o meio-termo. A virtude política estaria assim num equilíbrio entre dois extremos: um marcado pelo excesso, outro pelo defeito. Se os regimes socialistas apresentavam défice de liberdade e excesso de igualdade, as soluções liberais têm mostrado o contrário: um excesso de liberdade, entendida como desregulação social, e um defeito de igualdade, sentido como injustiça social.
O que estamos de novo a aprender é a velha virtude da phrónēsis, a prudência, também ela aristotélica. As comunidades humanas, pelo menos aqueles que descendem da cultura política grega, para funcionarem com eficiência necessitam desse sábio equilíbrio. A prudência manda que segurança, liberdade e igualdade se equilibrem, para que todos se sintam parte da mesma comunidade política. O retorno em força da temática da igualdade é o sintoma de uma doença que está a corroer o tecido social português e, ainda que de forma menos espectacular, europeu.
Sem comentários:
Enviar um comentário