O rosnar da noite
Oiço o rosnar da noite ao cair sobre as avenidas indefesas. Por lá vão homens a correr, como se a chuva fosse a metralha de um bombardeiro inimigo. Nas entranhas da terra, uiva uma matilha de lobos inquietos e esfaimados. Quando a treva chegar, sairão à procura do festim. Quando voltarem, a boca ensanguentada, a noite expirará e a aurora sorrirá no horizonte, promessa enganadora que anuncia a cordialidade da manhã. Exaustos, os lobos bocejarão antes de adormecer. A luz toma então conta do mundo e os homens retornam ao desassossego do dia, como se a luz nunca mais morresse.
1 comentário:
Inquietante e formidavelmente envolvente...
Se oiço, em desassossego, o uivar das noctívagas feras, mais tremo ante o surdo ulular dos lobos da luz. Invisíveis, rondam, silenciosos e ávidos, os que sofregamente nos cobiçam o sangue e a alma.
Quem nos protegerá da noite fria e devastadora que se esconde na aparente doçura da luz?
Alice N.
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