14/05/08

O Dr. Jardim, o PSD e a Europa

O Dr. Alberto João Jardim abandonou definitivamente as suas esperanças de candidatura à presidência do PSD. Não aprecio o estilo, nem gostaria de o ver como primeiro-ministro de Portugal. Mas há uma coisa que eu sei: o Dr. Jardim não é parvo e sabe muito de política, quase tanto como o Dr. Soares. Lamenta, na sua declaração de renúncia, a falta de alternativa com marca PSD ao PS: «os candidatos deste momento à sua liderança, nem o conseguem marcar, de fundo, como alternativa aos socialistas». E, como não quer a coisa, deixa esboçado todo um programa alternativo: «A Social-Democracia que inspira a fundação do Partido Social Democrata, é personalista. Bebe na concreta realidade nacional. Logo, tem de ser oposição a todas as correntes socialistas, bem como ao liberalismo que endeusa o mercado e que, em Portugal, tragicamente, voltou ao orçamentalismo do Dr. Salazar, mas agora à mercê de directivas externas à comunidade nacional soberana.» [Ler o discurso aqui]

O que está a dizer o Dr. Jardim? Por que mobiliza ele noções como “personalista”, “socialistas”, “liberalismo” e “orçamentalismo”? A chave está nas derradeiras palavras: “directivas externas à comunidade nacional soberana”. Mas qual é a forma de se tornar alternativa aos socialistas e de fazer frente às “directivas externas à comunidade nacional soberana”? Só conheço uma: sair da União Europeia. Aliás não há programa político alternativo ao actual governo que não passe pela saída da União. Mas será exequível essa saída e Jardim estará nela interessado? Respondo a esta pergunta com outra: será isso que estará em questão? É provável que Jardim, com o seu faro apurado, cheire o que está para chegar e aquilo que está para chegar, no âmbito da Europa e apesar das aprovações parlamentares do Tratado de Lisboa, pode ser qualquer coisa que cheire muito mal. Jardim pré anuncia a necessidade de sair da Europa, não por um devaneio, mas porque pressente já a sua desagregação. Veremos.

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