26/05/08

Uma sombra caminha

Vem um vulto na bordadura da estrada, pisa as ervas floridas pela primavera, avança como se tivesse um destino, um fim último a mover-lhe o coração. Os carros que passam ocultam-me, por vezes, o fulgor daquele que anda, mas logo a imagem retoma a existência e prossegue em movimento certo a caminhada que a traz aos meus olhos. É uma estátua nítida batida pelo sol, uma figura de cera animada pela expectativa de uma meta que lhe dê o perpétuo descanso. E ali vai ele, passo a passo, indiferente aos cães que uivam, à chuva que cai, ao ardor do sol, se o Verão chega. Vem, passa ao longe e eu viro-me para o ver desaparecer. É agora uma sombra e caminha e caminha e caminha, como se a estrada não tivesse fim e a sombra não mais desaguasse nas trevas da noite.

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