17/05/08

António Manuel Couto Viana - Vista Geral da Ilha

Jorra da terra o impudor das águas
Para estreitas estradas coleantes
Que, tentadas pio abismo azul do mar,
Se abraçam à verdura das montanhas.

Aqui, o ibisco sensual, vermelho.
Além, a orquídea, a esterlícia, a acácia,
Acenos tropicais da bananeira,
Canas-de-açúcar adoçando o espaço.

Cimos de neve e espuma de onda morna.
Vergam-se vimes. Na videira, os bagos
São já licor bebido no aroma.

E em noite límpida as estrelas descem,
Salpicando de lumes latejantes,
A prolongar o céu pelas vertentes.

3 comentários:

Alice N. disse...

Que lindo poema! Todo ele apela às sensações. Parece um quadro impressionista - um Monet, um Renoir ou um Pissaro...

Não consegui decobrir que lugar fantástico foi tão sublimemente descrito, mas fez-me viajar para um autêntico paraíso!

Alice N.

Anónimo disse...

Alice,

Este poema "refere-se" à Ilha da Madeira, se é que um poema se refere a alguma coisa a não ser a ele mesmo.

JCM

Alice N. disse...

JCM,

Claro! Era só estar mais atenta à flora (estou um bocadinho envergonhada com a minha lentidão de raciocínio; foi burrice mesmo). Certas passagens lembraram-me os Açores, onde vivi um ano, mas outras referências levaram-me a concluir que era outro o local.

Também pensei que o poema podia não ser necessariamente a fiel descrição de um lugar, mas o espelho de uma riquíssima e paradisíaca "ilha" interior.

Obrigada pela atenção, JCM.

Alice N.