16/05/08

Os bispos católicos e as fraldas

Como se vem tornando público e notório, estou longe de ser um anticlerical militante. Pelo contrário, vejo a intervenção da Igreja Católica, em muitos domínios, como profundamente positiva e um oásis no deserto em que se vive. Confesso que a vetustez da instituição provoca em mim um imenso respeito. Mas aquilo que me espanta é a inocuidade de muitas posições que a hierarquia decide tomar e, ainda por cima, publicitar. Por exemplo, segundo o Diário Digital, “Os bispos católicos da União Europeia defendem a redução do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) em fraldas para bebés, nas cadeirinhas para os automóveis e produtos específicos de cuidados infantis”. Óptimo. Também estou de acordo. Mas os bispos julgarão que fazem parte de um sindicato? E julgarão que os europeus desatam a emprenhar as europeias só porque os governos decidem baixar o IVA das fraldas? Estarão convencidos que a questão demográfica se deve à falta de dinheiro? Não quero ser de intrigas, mas há qualquer coisa que não está a funcionar na comunicação entre os bispos e o Espírito Santo. Talvez se os bispos estivessem mais preocupados com a essência da cristianismo e a forma de o tornar acessível aos homens modernos, educados na autonomia da razão, fosse mais produtivo, cultural e religiosamente, do que estar preocupados com fraldas, carrinhos, preservativos e outro tipo de mundaneidades.

1 comentário:

maria correia disse...

Vão fazendo o que podem, num mundo conturbado...mas o mundo, na verdade, foi sempre conturbado. O que faz com que o mundo, hoje em dia, pareça mais conturbado ainda, é a forma como a comunicação social, especialmente a televisiva, atira para o ar catástrofes e vatícinios de mau agoiro a torto e a direito, fazendo com que as pessoas se sintam`constantemente à beira do fim do mundo, quando, no fundo, não estão. Na verdade, a questão demográfica não se prende com a falta de recursos. Basta olhar para África, no mínimo, para ver que é precisamente onde não existem quase recursos que as pessoas mais continuam a reproduzir-se. Cá, basta visitar um bairro social meio abarracado, para nos depararmos com bandos de meninos quase pé descalço.Bem, com imitações de ténis Nike nos pezinhos de criança(Senhor, por que lhes dai tanta dor, porque padecem assim? --Augusto Gil, in A Balada da Neve--Durante séculos, a Igreja teve um pael fundamental nesse tal emprenhar das europeias...seguindo o conselho: «Crescei e multiplicai-vos!», bom para a época em que Jesus o preferiu, mas que, hoje em dia,já não faz tanto sentido assim. Há milhões de crianças no mundo a morrer de fome...Mas, enfim, é uma questão de dogma. No entanto, há muitos vectores onde a Igreja tem um papel importantíssimo e corajoso. Nos conflictos em África, quando todas as ONG's fogem, apoiadas pelos governos na fuga, quando a situação se torna difícil demais, quem fica? São os missionários. E isso é cristianismo.