A zoada que cresce
Um zumbido infecta a tarde, cresce a zoar nos ouvidos, toma conta de casas e pessoas. Se o silêncio viesse cobrir de paz estas horas, tudo se tornaria mais fácil. Alguém vai ao terraço e rega as flores, cobre cada um dos vasos com uma fina película de água e depois recolhe-se, como se toda a vida ganhasse sentido nesse acto de se acoitar na inviolabilidade do casulo. Sentado noutro terraço, um homem olha o horizonte. Conta os carros que passam e boceja, depois retoma a contagem e torna a bocejar. O zumbido cresce enquanto ele conta, cresce impávido e indiferente às contagens humanas. É um zumbido de carvão, lasso, o rufar de uma nódoa na claridade que se ergue da terra. O contador desapareceu, não há carros na linha do horizonte, resta apenas a zoada infinita a crescer dentro de mim.
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