30/05/08

Viagem

Um punhado de árvores frondosas desenha, sob um céu maculado de branco, um pequeno bosque. Serão velhos carvalhos? A luz da tarde e os olhos cansados, talvez o exíguo conhecimento de botânica, impedem-me a certeza ao afirmá-lo. A escassos metros da orla, corre, adormecido e secreto, um rio de águas claras, espelho onde as árvores se desejam ao entardecer. Um barqueiro aproxima-se no seu barco, rema devagar e o pequeno batel desliza pelo vidro translúcido, enquanto os remos descem e sobem numa cadência quase musical. Uma minúscula enseada serve de porto onde a embarcação se abriga, por instantes. Do fundo, levanta-se uma mulher. Está desgrenhada e nua. Salta para a margem com dificuldade, quase se desequilibra. Não fala nem acena, apenas caminha incerta, o corpo gasto, os seios velhos, as rugas negras. Entra no bosque e o barqueiro faz-se à viagem. O crepúsculo cresce a anunciar a noite, enquanto ela desaparece na névoa das árvores. Um relâmpago nasce no seio do bosque e ao longe ouve-se o crocitar dos corvos.

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