O vento que varre
A tarde declina com uma luz ferida por raras nuvens e na copa das árvores vê-se o vento a correr sem mansidão. Suspeito deste vento que desce da serra e fustiga o que apanha pelo caminho. Dentro dele há um mistério, um segredo que a sua voz, por vezes tão ruidosa, sempre cala. O que diz o vento? Continua a soprar na lonjura das ruas, enquanto as nuvens cavalgam indecisas pela planície azul, o céu dizem. Às vezes, mas tão poucas, suspeito que ele quer varrer tudo à sua frente, como se fosse possuído por um demónio de limpeza. Não, não pode ser, os demónios amam, todos eles, a sujidade, a porcaria, e o vento que varre parece desejar um horizonte sem mácula. Talvez o vento seja um deus ou a voz de um deus que por nós chama, talvez. Mas quem, na azáfama dos dias, ouve a sua voz?
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