Vasco Pulido Valente - Sebastianismo
Comecei logo por ser do Benfica (aos cinco anos?). Lá em casa havia a opinião, altamente absurda, que o Benfica estava "ligado" à "esquerda" e o Sporting ao regime. Nada disto fazia sentido. Os clubes populares de Lisboa eram o Oriental, o Atlético e até certo ponto o Belenenses. Não era o Benfica. Mas de qualquer maneira fui naquela altura um adepto intenso. Sofri com a supremacia do Sporting (do Porto não se falava) e assisti mesmo à inauguração do estádio da Luz (do primeiro): um jogo com o Real de Madrid em que o Real de Madrid ganhou. Depois veio o tempo incomparável da Taça dos Campeões, que vi pela televisão em Inglaterra, e do dream team de Eusébio, de Águas, de Coluna, de Germano e de José Augusto. Ninguém podia pedir mais e, de facto, ninguém pedia.
Como explicou José Cutileiro num artigo que vale a pena ler, o Benfica do salazarismo também era uma organização autoritária. Os jogadores (que os dirigentes tratavam por "tu") dependiam inteiramente do clube, que regulava ao pormenor toda a sua vida. Com o "marcelismo" e o "25 de Abril", isto passou e o Benfica não se deu tão bem com a liberdade. A liberdade trouxe uma certa indisciplina e uma certa confusão, que pouco a pouco lhe reduziram a estatura e o domínio do futebol português. Mas com o advento do capitalismo ou, se preferirem, com o advento do mercado internacional de jogadores, a crise acabou por se transformar em catástrofe. A eleição de uma série de nulidades acabou em Vale de Azevedo e, daí em diante, numa espécie de irrealismo militante que tornou o Benfica num clube banal.
Como explicou José Cutileiro num artigo que vale a pena ler, o Benfica do salazarismo também era uma organização autoritária. Os jogadores (que os dirigentes tratavam por "tu") dependiam inteiramente do clube, que regulava ao pormenor toda a sua vida. Com o "marcelismo" e o "25 de Abril", isto passou e o Benfica não se deu tão bem com a liberdade. A liberdade trouxe uma certa indisciplina e uma certa confusão, que pouco a pouco lhe reduziram a estatura e o domínio do futebol português. Mas com o advento do capitalismo ou, se preferirem, com o advento do mercado internacional de jogadores, a crise acabou por se transformar em catástrofe. A eleição de uma série de nulidades acabou em Vale de Azevedo e, daí em diante, numa espécie de irrealismo militante que tornou o Benfica num clube banal.
Porquê? Porque o Benfica não se conseguiu adaptar ao novo mundo. A "mística", que o sustentara, não bastava agora para gerir com eficácia e com visão um negócio (arriscado) de centenas de milhões de contos. Na sua ingenuidade, os sócios persistiram, e persistem, em pensar que o Benfica precisa de um grande treinador e grandes jogadores. Mas não. Antes disso, como qualquer empresa, o Benfica precisa de um génio financeiro, que ponha a casa em ordem e melhore o produto (ou seja, a equipa), com meios relativamente modestos. Sucede que os sócios perderam a paciência para tudo menos para a salvação instantânea. O regresso de Eriksson (que falhou na selecção inglesa e no Manchester City) é essa tentativa de voltar por milagre flagrante do Altíssimo a uma glória antiga, de que ninguém percebe a razão e os fundamentos. No fundo, é acto de sebastianismo. Só que os benfiquistas são, evidentemente, portugueses. [Público de 10 de Maio de 2008]
-----------
Não podia estar mais de acordo. Tirando aquela parte da supremacia do Sporting, lembro-me muito bem de todo o resto. Se Pulido Valente era benfiquista aos 5 anos, eu já o era muito antes dessa idade.
Sem comentários:
Enviar um comentário