Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Quarenta e dois
[Viena, Österreichische Galerie]
42 - Gustav Klimt - Adam und Eva (unvollendet), 1917-18 [Adão e Eva (inacabado)]
Quarenta e dois
Repousava Eva na sonolência de Adão
como se ainda não sentisse um corpo
no seu corpo ou um coração fosse
apenas um buraco negro e vazio, o sítio
perdido que não tem lugar nos jardins
a que os homens, em nome de Deus,
chamaram, pelo calor dos Verões, paraíso.
No seu olhar, pressinto já a dor
de Inês e no abandono pueril de Adão
ressoa o desassossego futuro que tomou
conta da mão de Pedro, feroz mão de Adão
libertada da vida tranquila, entre
árvores e flores, pela astúcia da serpente.
Se Inês, naquelas horas de ternura, assim
se encostava ao corpo de Pedro
não era a inquietação de eros que a movia,
mas o inacabado sonho que, de mulher em mulher,
veio de Eva e, na árida terra que recebemos
em herança, vê um jardim criado à sombra
de uma botânica divina. Os olhos de Eva
são agora a luz da pobre Inês e na névoa
que se ergue perante eles já não vê serpentes,
nem do mundo as feras convenções,
mas apenas a água que corre nos rios do paraíso
onde Adão mergulha para a abraçar
como se Eva fora a Inês que Deus lhe dera.
como se ainda não sentisse um corpo
no seu corpo ou um coração fosse
apenas um buraco negro e vazio, o sítio
perdido que não tem lugar nos jardins
a que os homens, em nome de Deus,
chamaram, pelo calor dos Verões, paraíso.
No seu olhar, pressinto já a dor
de Inês e no abandono pueril de Adão
ressoa o desassossego futuro que tomou
conta da mão de Pedro, feroz mão de Adão
libertada da vida tranquila, entre
árvores e flores, pela astúcia da serpente.
Se Inês, naquelas horas de ternura, assim
se encostava ao corpo de Pedro
não era a inquietação de eros que a movia,
mas o inacabado sonho que, de mulher em mulher,
veio de Eva e, na árida terra que recebemos
em herança, vê um jardim criado à sombra
de uma botânica divina. Os olhos de Eva
são agora a luz da pobre Inês e na névoa
que se ergue perante eles já não vê serpentes,
nem do mundo as feras convenções,
mas apenas a água que corre nos rios do paraíso
onde Adão mergulha para a abraçar
como se Eva fora a Inês que Deus lhe dera.
Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt, 2008
1 comentário:
Mais um quadro maravilhoso. O Klimt era, de facto, genial! E quando se está diante das suas obras, então, não há palavras. Mesmo que as conheçamos através dos livros, tê-las à frente dos olhos é, na verdade, vê-las pela primeira vez e ficarmos mais perto do Céu. E os quadros de Klimt, com o seu estilo inovador, as suas cores vivas e brilhantes, o seu traço único e inconfundível, são simplesmente magnetizantes! É difícil estar diante de um Klimt e virar-lhe as costas.
Quanto ao poema: lindo e surpreendente, como sempre. Cheio de belas imagens e sonoridades. Os últimos versos são, para mim, particularmente comoventes.
Alice N.
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