A dúvida razoável
Voltemos ao futebol, embora o problema também seja inerente à vida política ou à economia. Os castigos que a justiça da Liga de Futebol proferiu vieram revelar uma faceta da moralidade pública portuguesa. Basta ler os blogues ou a imprensa para perceber a realidade. Há duas espécies de reacções. Por um lado, pergunta-se com desfaçatez se não há mais corruptos, como se esta pergunta absolvesse, por si, aqueles que eventualmente o são e foram apanhados, se é que o foram. Estes, na boca dos que lhes estão próximos, não são culpados de grande coisa e no fundo não passam de vítimas de uma espécie de «cabala» que pune certas infracções para esconder outras idênticas, talvez piores, de outros. Por outro lado, há quem ache que se determinado tipo de provas não tem valor judicial, devido às maravilhas que os especialistas em direito descobrem para o transformar numa ciência esotérica, então as pessoas que elas envolveriam têm uma conduta acima de toda a suspeita, fundamentalmente se essas pessoas forem da nossa cor. Seja política, seja futebolística.
Ninguém está interessado na moralidade da vida pública. E muitos dos que protestam contra os desvarios da política já são mais maleáveis quando se trata das malevolências do mundo do futebol. Há até quem faça análise política e social sobre o assunto com a seriedade de professor universitário e investigador. Que nada seja sério, que a suspeita seja contínua, que ninguém acredite na bondade dos negócios públicos ou na verdade dos campeonatos, isso é pouco importante. O importante mesmo não é a seriedade dos protagonistas. O importante é que os nossos não sejam apanhados e se o forem que exista uma dúvida razoável para se safarem e as nossas paixões, políticas ou futebolísticas, se sintam assim justificadas e engrandecidas. Por que será que somos o mais atrasado dos países europeus? A única coisa que nos interessa não é a verdade e a limpeza, mas que os nossos ganhem, seja lá como for. Se a coisa for obscura, ao menos que exista uma dúvida razoável. Ela significará já um atestado de inocência e a confirmação de uma pureza celestial. O problema de Portugal é muito simples: são os portugueses.
Ninguém está interessado na moralidade da vida pública. E muitos dos que protestam contra os desvarios da política já são mais maleáveis quando se trata das malevolências do mundo do futebol. Há até quem faça análise política e social sobre o assunto com a seriedade de professor universitário e investigador. Que nada seja sério, que a suspeita seja contínua, que ninguém acredite na bondade dos negócios públicos ou na verdade dos campeonatos, isso é pouco importante. O importante mesmo não é a seriedade dos protagonistas. O importante é que os nossos não sejam apanhados e se o forem que exista uma dúvida razoável para se safarem e as nossas paixões, políticas ou futebolísticas, se sintam assim justificadas e engrandecidas. Por que será que somos o mais atrasado dos países europeus? A única coisa que nos interessa não é a verdade e a limpeza, mas que os nossos ganhem, seja lá como for. Se a coisa for obscura, ao menos que exista uma dúvida razoável. Ela significará já um atestado de inocência e a confirmação de uma pureza celestial. O problema de Portugal é muito simples: são os portugueses.
1 comentário:
"O problema de Portugal é muito simples: são os portugueses."
Inteiramente de acordo e, por isso, acrescentaria que, infelizmente, Portugal não é um país para levar a sério.
Alice N.
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