25/02/09

Kjell Nordstrom - Inovação e emoção

Kjell Nordstrom

Kjell Nordstrom dá uma interessante entrevista ao Público, de hoje. Este professor universitário sueco é considerado como um dos grandes gurus do mundo dos negócios, e mesmo aqueles que não gostam de gurus nem do mundo dos negócios devem prestar-lhe alguma atenção. Este tipo de pessoas tem uma especial capacidade de orientar o olhar para aquilo que pode estar a chegar. Quais os traços fundamentais que se destacam na sua retórica sobre a saída da actual crise? A inovação e a emoção. Curiosamente são já os conceitos fundamentais que conduziram à crise em que estamos mergulhados. A produção do inédito e a substituição da razão pelo sentimento são os elementos estruturantes do Zeitgeist das últimas décadas. Quem pensar que a actual crise é uma janela aberta para um certo retorno de alguns valores ligados à racionalidade ocidental está redondamente enganado. A crise que se está a viver é um momento onde a aceleração dos processos iniciados com a modernidade se vai intensificar. Isto significa que a tensão do futuro sobre o presente vais ser ainda maior e que o pensamento dos actores sociais estará mais preso a imagens desse futuro do que à realidade efectiva do presente. Daí a importância da inovação e da emoção.

Mas se pensarmos na essência destes dois conceitos ficamos perplexos. Tanto um como o outro dissolvem aquilo que é essencial para o homem viver e para as comunidades se desenvolverem: a estabilidade. O que assegura a estabilidade é a solidez da tradição e a clareza da razão. Inovar significa destruir a tradição, substituir o testado pelo que é novo. Apelar à emoção quer dizer apenas que as decisões (individuais e colectivas) irão sendo cada vez mais tomadas sobre a obscuridade do sentimento, em detrimento da luz da razão. Isto significa então uma coisa deveras interessante: a saída para a crise é a intensificação da própria crise: dissolver os laços racionais, substituí-los por "links" emotivos, destruir o existente através da inovação como processo de produção não apenas do novo, mas também da obsolescência do velho, tudo isto significa apenas o crescimento das situações críticas que atingem o mundo humano. Talvez o que possa estar a acontecer não seja uma crise episódica, como aquela de 1929, mas a entrada num período crítico contínuo e prolongado, do qual não haja saída dentro do quadro de valores em que nos movemos desde o século XVII.

Há em toda esta história uma obscuridade que não deixa de assediar o pensamento. Que estranha racionalidade foi aquela que emergiu no século XVII, com Descartes, e se desenvolveu com o Iluminismo, o idealismo alemão, o pragmatismo americano, que está a conduzir à aniquilação da própria razão no magma do sentimento? Que irracionalidade se escondia no projecto da modernidade para que agora ele venha, mais uma vez, à luz do dia?

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