06/02/09

Influente e popular

Há coisas feias que compensam. O nosso querido líder europeu abandonou o velho barco que se afundava, Portugal, e entregou-se à glória do mando de um barco novo e moderno, a União Europeia. Agora, o antigo candidato a grande timoneiro da classe operária, é um dos líderes mais populares e influentes do mundo. Terá algum mérito. Mas a sombra da fuga para a Europa e o despudor da entrega de Portugal a Santana Lopes são coisas que a influência e a popularidade cosmopolita jamais farão esquecer. Isso não significa, porém, que, esgotado o tempo de Cavaco Silva, Barroso não regresse para uma candidatura à Presidência da República. Portugal não esquece, mas... Como habitualmente, não perdoará a sua fuga nem desperdoará. É bem possível que o eleja para o mais alto cargo da nação. Por desfastio.

5 comentários:

Alice N. disse...

"Há coisas feias que compensam."

Infelizmente, parece que, em política, quase todas as coisas feias compensam.
Quanto a uma possível candidatura presidencial de Durão Barroso, daqui a uns anos, também acredito. Não faltará quem se deslumbre com a ideia de ter uma celebridade mundial em Belém, uma pessoa tão importante e influente... Por mim, celebridade por celebridade, preferia um qualquer jogador de futebol: também são célebres e populares e, pelo menos, não enganam ninguém. Para fazer o papel que o actual presidente faz, qualquer um pode lá estar, mas, pelo menos, que tenha algum carácter e não seja um cobarde que abandona o barco quando o vê a afundar-se, lavando as mãos como Pilatos. Merecemos muito melhor!

Anónimo disse...

Não censuro o Durão Barroso por ter aceite o convite para Presidente da Comissão Europeia.
Nem entendo a sua aceitação como uma fuga.

As únicas pessoas que eventualmente poderão estar descontentes com ele são os militantes do PSD. Foi desde a sua saída que o PSD começou a perder o poder em Portugal.

Mas não foi uma fuga. Foi uma promoção, antes de mais pessoal, diga-se (na sequência do trabalho que o mesmo desenvolveu enquanto Secretário de Estado do Ministro dos Negócios Estrangeiros de João de Deus Pinheiro, de Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cavaco Silva e de Primeiro Ministro).

O culminar desse trabalho, algum dele meritório (lembremo-nos das negociações para a paz em Angola), ocorreu com a célebre (e na minha opinião lamentável) Cimeira das Lages.

Porém, de um ponto de vista objectivo, parece-me importante para Portugal ter um representante seu na Presidência da União Europeia. Ainda que indirectamente deu-nos algum peso internacional.

Penso ainda que a saída de Durão Barroso foi acertada ao pormenor com Jorge Sampaio, que também entendeu que a aceitação daquele cargo na União Europeia seria bom para o País.

Daí a confusão que se gerou com a pressão (maoiritária até no Conselho de Estado) para a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições legislativas. Jorge Sampaio não o fez, apesar da enorme pressão, porque já se tinha comprometido a não o fazer antes com Durão Barroso. Jorge Sampaio apoiou a saída de Durão Barroso.

Durão Barroso tem continuado a revelar o seu «low profile» e a sua capacidade de negociação. Provavelmente irá ser reconduzido no cargo. O que não é fácil numa Europa em crise e profundamente dividida.

A mesquinhez e a inveja (última palavra dos Lusíadas) continua a ser uma característica entranhada na sociedade portuguesa. É mesmo provável que muitos que agora o acusam de fuga um dia venham a votar nele nas eleições presidenciais e o apresentem como um herói.

Irónicamente Durão Barroso, ex-candidato a líder da classe operária em 1974-75, chegou trinta anos depois a líder da União Europeia.

Quem ontem levantou bandeiras que hoje nunca levantaria, que atire a primeira pedra [Jo 8, 1-11].

Alice N. disse...

Respeito todas as opiniões, mas depois de ler o comentário anterior, não posso deixar de me colocar algumas questões.

Será inveja e mesquinhez esperar que um político leve por diante o seu compromisso com um povo, ou pelo menos com a maioria que nele confiou e o elegeu para um dos mais altos cargos da nação? Será inveja e mesquinhez esperar que um primeiro-ministro ponha em segundo plano as suas ambições pessoais face à importância da missão que se propôs cumprir, num momento particularmente difícil para o país?

Eu gostaria de acreditar que ainda existem homens de palavra, sentido do dever e alguma ética política. Puro idealismo e ingenuidade, talvez. Inveja e mesquinhez é que não vejo porquê.

Anónimo disse...

Escrevi o comentário anterior rapidamente, sem o reler antes da sua publicação.

Detectei depois dois ou três lapsos, no meio do texto e um no último parágrafo.

Corrijo agora a pressão «maoiritária» no Conselho de Estado, para maioritária, sem ter sido minha intenção fazer um trocadilho com os maoístas.

A propósito do passado maoísta de Durão Barroso, corrijo também a última frase para: «Quem nunca ontem levantou bandeiras que hoje não levantaria, que atire a primeira pedra [Jo 8, 1-11]».

Admito que a pressa com que escrevi o comentário não me tivesse permitido expôr de uma forma clara a minha opinião.

Não pretendi defender o Durão Barroso (com quem nada tenho a ver politicamente e que critico em muitas opções que tomou), nem acusar o anfitrião deste blogue ou a Alice N..

Discordo apenas da interpretação que Durão Barroso tenha fugido do cargo de Primeiro-Ministro, com «medo» das dificuldades.

Discordo também que tenha sido mau para o País a sua aceitação do cargo de Presidente da Comissão Europeia. (Se Durão Barroso era mau Primeiro-Ministro até nos fez um favor ao ir embora...).

Fazendo uma comparação entre o seu desempenho nos dois cargos, prefiro e considero objectivamente mais vantajoso para Portugal ter um Presidente da Comissão Europeia (apesar de reconhecer que o terá sido também para Durão Barroso).

Quando fiz uma alusão à mesquinhez e inveja entranhadas na sociedade portuguesa, reconheço que não será um fenómeno exclusivamente luso, mas inerente à natureza humana. Porém, Portugal, devido à sua pobreza, pequena dimensão e isolamento geográfico, potencia os seus efeitos. Já Eça falava disto.

maria correia disse...

Estou plenamente de acordo com José Trincão Marques,apesar de também não me identificar com várias das decisões polícas que tomou. Contudo, há que saber separar as águas, como muito bem fez o José Trincão Marques. Pondo de lado a Cimeira das Lages (o Blair fez o mesmo e o Aznar e são países politica e economicamente muti mais fortes), Durão Barroso, no seu estilo low profile tem tido um óptimo desempenho na UE e orgulho-me de ter um presidente português com tanto prestígi à frente da União. Foi muito mais vantajoso para o país ele ter aceite o cargo do que cá ter continuado. Até parece que não haveria mais ninguém por cá para continuar com o cargo que Barrosso tinha na altura. É óbvio que Santana Lopes foi uma catástrofe, mas isso é um problema do PSD. Aliás, o governo foi demitido pouco depois. Durão Barroso não «abandonou» barco algum, pelo contrário, em vez de permanecer na caravela passou a dirigir a nau. E os portugugueses sempre foram muito bons a dirigir naus. Ele comprava-o. Em política, como tudo na vida, há que tomar decisões. E devíamos aceitar as decisões, difíceis, ainda por cima, que a spessoas por vezes têm de tomar. E não fazer o que o rebanho faz, ou seja, ir atrás da opinião comum, muitas vezes injusta, e que está sempre pronta a apontar o dedo a seja a quem for. Creio também que Durão Barroso daria um óptimo presidente da república. Tem perfil, sabedoria e savoir faire de nível internacional para desempenhar o cargo na perfeição.