19/02/09

Paul Celan - O poema


Porque o poema não é intemporal. É certo que proclama uma pretensão de infinito, procura actuar através dos tempos — através deles, mas não para além deles.

O poema, sendo como é uma forma de manifestação da linguagem e, por conseguinte, na sua essência dialógico, pode ser uma mensagem na garrafa, lançada ao mar na convicção – esperançada — de um dia ir dar a alguma praia, talvez a uma praia do coração. Também neste sentido os poemas estão a caminho — têm um rumo.

Para onde? Em direcção a algo aberto, de ocupável, talvez a um tu apostrofável, a uma realidade apostrofável. Penso que, para o poema, o que conta são essas realidades. E acredito ainda que raciocínios como este acompanham, não só os meus próprios esforços, mas também os de outros poetas da geração mais nova. São os esforços de quem, sobrevoado por estrelas que são obra humana, de quem, sem tecto, também neste sentido até agora nem sonhado e por isso desprotegido da forma mais inquietante, vai ao encontro da língua com a sua existência, ferido de realidade e em busca de realidade.
[Paul Celan, in "Alocução na entrega do Prémio Literário da Cidade Livre e Hanseática de Bremen.]

1 comentário:

maria correia disse...

Contudo, a beleza inerente ao poema em si é intemporal, independentemente do conteúdo que poderá, esse sim, ser temporal.

«A rose is a rose is a rose is a rose...» G Stein