28/02/09

Um caminho perigoso


No abertura do congresso dos socialistas, José Sócrates voltou a falar de "campanhas negras" e da necessidade de "travar um combate decisivo" pela "decência da vida democrática", o que, como refere o Diário de Notícias, significa levar o caso Freeport a votos.

Mas este caminho, além de demagógico, é altamente perigoso para a democracia e, se ele for levado para a frente, Sócrates não estará a cuidar da "decência da vida democrática", mas a destruir a democracia. Esta assenta na separação entre o poder judicial e o poder executivo. O caso Freeport, tal como ele se está a desenrolar, é um caso de Justiça e não de plebiscito eleitoral.

Se Sócrates quer cuidar da democracia então que tome uma atitude semelhante aquela que tomou o seu camarada de partido, António Vitorino. Sob suspeita de uma irregularidade fiscal, pediu a demissão e na Justiça provou a sua inocência. António Vitorino defendeu a democracia. Sócrates não precisa de se demitir. Basta que não fale em "campanhas negras" e aguarde serenamente, sem apelo aos sentimentos de rebanho que há em todos os partidos políticos, o resultado das investigações judiciais. A retórica do "combate decisivo" é perigosa, muito perigosa, pois mobiliza paixões e oculta razões, nomeadamente a razão jurídica que deve resultar do processo judicial.

Todos temos o sentimento de que o caso Freeport tem um aproveitamento político, mas cada vez é menos claro quem é o efectivo beneficiário desse aproveitamento. Seja como for, estamos à porta de um novo passo para o abismo da democracia portuguesa, cada vez mais terceiro-mundista, cada vez menos europeia.

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