Moisés David Ferreira - Reencontro VII
a essência do lugar: um rasgo esquivo
na mancha da solidão.
e os dedos cavam as lâmpadas cujo
filamento é um sistema de relâmpagos.
estou à beira de um relâmpago: esta janela
bebendo a liquefacção de todos os invernos passados
a dançar dentro da chuva.
quando as oliveiras frias levantavam a sua lua de cânticos
e o fruto, o único fruto, era o assombro:
de repente, a cor dilatada dos pulmões
sustendo a respiração;
ou o adentrar das raízes do fogo
no extremo inconcluso da carne.
esta janela: e o grito estabelece-se
na pulsação migratória das minhas próprias mãos,
a princípio coberto da fuligem
dos dias que não sangram, depois
geométrico como se quisesse
levantar-se do seu húmus,
ou ser música. a memória desfaz-se,
e desfeita comanda a orquestra
do que é derradeiro, mínimo:
o diamante insular dos teus olhos
escorrendo da paragem do tempo,
a consumação das estrelas nesta chama a abandonar
a superfície do lume,
o vento acabado de sair
das vísceras de um litoral.
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