19/02/09

Será que estamos a perceber?


"A crise é na realidade o toque a finados da globalização desregulada." Esta frase pertence a João Ferreira do Amaral (Diário Económico, de 18/02/09). Mas, penso, ainda não se está a perceber bem a situação. O problema não está na passagem de uma globalização desregulada para uma globalização regulada, nem, tão pouco, em passar da globalização para a localização, digamos assim.

O problema é muito mais vasto e põe em causa os próprios desígnios que são os das sociedades que cresceram na sequência do Iluminismo. Por exemplo, que consequências tem o crescimento económico? O planeta suporta-o? Que consequências humanas tem a actual tendência para o crescimento do horário de trabalho? Vamos retornar aos tempos do início da industrialização, vamos voltar à escravatura?

Assim, a questão é bem mais verrumante do que um conflito entre modelos económicos. Não é apenas a economia que está em crise, mas todo um modelo civilizacional, modelo que do Ocidente foi exportado para o Oriente, e que está a implodir. O que não admira, pois o Iluminismo, de cariz liberal ou socialista, assentou, em última análise, a essência civilizacional na economia. O toque a finados que se escuta é um contínuo dobrar dos sinos. Os cadáveres não param de se empilhar. [Imagem extraída de Outra Política]

1 comentário:

maria correia disse...

a ideia do capitalismo globalizador e desregulado é essa mesma: a sujeição do Homem á escravatura do Trabalho. E o trabalho nem sequer é em proveito desse mesmo homem; escravizado por horários e contas a pagar devido aos créditos e subcrédtitos que esse mesmo capitalismo lhe impinge, o «escape» deste Homem é a televisão ao fim do dia e o passeio dos parvos ao fim-de-semana...e, não, não falo só de Portugal. Mas creio escutar, ao longe, muito ao longe, ventos de mudança. Oxalá essa mudança seja a implícita na frase de Camões «tomando sempre novas qualidades.» As qualidades de uma nova era, claro, mais humana...e iluminada.