Um ofício tem um chão de ouro
Nos Provérbios, de Sebastian Franck (Frankfurt, 1560), é recolhida a versão do humanista germânico Johannes Agricola Schnitter (1494 - 1566) do seguinte provérbio: "Um ofício tem um chão de ouro". Esta formulação recolhe uma antiquíssima experiência da humanidade. Como ler esta frase? Ela diz-nos que compensa aprender um ofício. Diz-nos mesmo, noutras versões, que um bom ofício, uma vez adquirido, é sempre uma segurança, um chão ou fundamento para a riqueza.
Esta sabedoria tradicional, começou a morrer no exacto momento em que Agricola faz a sua formulação. Os tempos modernos começavam a emergir no horizonte histórico e preparavam o caminho para os nossos dias. Poderemos hoje dizer que um bom ofício nos dá segurança? Não. Os ofícios humanos tornaram-se evanescentes, as profissões alteram-se rapidamente, aparecem e logo desaparecem. Subjacente à perspectiva ainda recolhida por Agricola está a da estabilidade de uma vida, onde o ofício dá sentido e prosperidade. Hoje, porém, os homens, contra sua vontade, tornaram-se nómadas, não de um nomadismo que os leva de lugar em lugar fazendo sempre o mesmo, mas de um nomadismo psicológico que os obriga a aprender, se é que é isso que eles fazem, novos ofícios que desaparecerão em meia dúzia de anos. Que consequências terá este novo nomadismo para a sociedade, para a família e para o indivíduo? Ler ou escutar as notícias dá uma pequena ideia para onde conduz a nova sabedoria, à qual não falta os seus ferverosos Johannes Agricolas.
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