24/02/09

Nostalgia e vergonha



Uma das maiores humilhações do regime democrático é aquela que, de certa forma, o autor do blogue Combustões retrata no post Santa nostalgia. Um regime democrático não tinha que, obrigatoriamente, gerar a nostalgia do sistema educativo do regime de Salazar. Mas o descalabro a que pedagogice pateta e a irresponsabilidade política conduziram o sistema educativo quase que sublima e santifica o que se fazia anteriormente. Mais: para vergonha da nossa democracia o sistema educativo actual, aquele que nasceu das últimas eleições (mas que já se vinha desenhando há muito), é, considerando os respectivos contextos sociais e epocais, menos democrático e menos democratizador da sociedade que o sistema dos anos sessenta. A destruição da escola pública veio pôr a nu qualquer coisa que já se suspeitava: só as classes médias altas e altas das grandes cidades têm a possibilidade de dar uma educação menos má aos seus filhos. O nefasto ensino secundário (essa coisa que nasceu da destruição dos liceus), aquela espécie de coisa a que se chama ensino básico e um ensino técnico sempre a recomeçar do zero são aquilo a que os menos afortunados têm direito. Isto não é apenas uma abjecção académica, mas um acto de infinita injustiça social.

1 comentário:

maria correia disse...

Pois é...nessa altura, uma pessoa que concluísse a quarta classe sabia escrever sem erros e muito melhor em termos de construção frásica do que muitos licenciados que saiem hoje em dia dos cursos de letras...ora essa é que é...e estas escolinhas lindas espalhadas por todo o Portugal foram um marco histórico no mundo da educação escolar. Bonitas, bem preparadas, nada comparável aos barracões que se forma constrindo por aí...e os professores primários desse tempo...autênticos Mestres. Falando da sua continuação, os antigos liceus e os antigos professores de liceu...é a mesma coisa, mestres belíssimos e bons estabelecimentos de ensino público...o que foi feito desse mundo?