18/02/09

Moisés David Ferreira - Reencontro II

as escadas capturam o assombro,
árvores enleadas ao correr dos séculos,
o grito fulminante das pedras e das águas
assistindo ao desfilar de espectros sobre
o tenebroso cais da inocência.
no coração das muralhas,
veias oblíquas debatem-se
contra as máscaras insones
e o alvor dos túmulos;
dentro das pontes, cantos impérvios
detonam ainda
alguns lugares da infância. (outras mãos
renasceriam dos sopros se essa corda
fosse minuciosamente tangida pelo amplexo
de quem tivesse regressado
da morte – outra
voluptuosa onda afundaria o seu distendido mármore
nos dentes da tempestade).
os passos invertem a distância
dos ecos a si mesmos, floresce
uma câmara vertical
onde os dedos se mergulham
nos plexos do tempo
(para emergirem como uma esteira de estrelas,
a noite um peixe terrestre e volátil).
as escadas
são um lugar de relâmpagos,
a presença súbita de como que
a vida inteira
no lento abrir de pétalas
que é subir.

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