Apontamentos para uma arte poética - I
No post abaixo, o poeta Paul Celan diz que o poema é uma forma de “manifestação da linguagem” e, por isso, é na sua “essência dialógico”, dirige-se a alguém. Como se sabe, o fazer poético, esse produzir de um texto que se dirige a alguém, estrutura-se pela suspensão da semântica vulgar, pela abertura de novos espaços de sentido. Isto faz-se a partir de duas estratégias. A primeira, mais corrente, é a utilização das chamadas figuras de estilo, nomeadamente da metáfora. A linguagem renova-se, ao ampliar o conteúdo dos significantes, e dá a ver o mundo de uma forma que, devido ao desgaste, o uso vulgar da linguagem é já incapaz. A segunda, menos usual, implica uma certa desgramaticalização da frase poética. Esta desgramaticalização é uma suspensão da sintaxe corrente, ou uma reconstrução da sintaxe em novos moldes. Sublinharia, porém, que a poesia, enquanto forma de tecer textos e apesar da renovação que impõe da forma como habitamos e vemos o mundo, não deixa de reforçar essa forma de ver o mundo, naquilo que é a sua essência, a de compreender o mundo como um nexo de relações de causa e efeito. Estas são apresentadas de uma forma mais sedutora, devido ao efeito das figuras de estilo, e são, de certa forma, reforçadas, pelas novas formas de aproximação sintáctica, mas é ainda o nexo causal que é mostrado, pela poesia, como verdadeira essência do mundo [continua]. [19/02/2009]
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