Consenso nacional?
O presidente da Agência Portuguesa para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Basílio Horta, não sabe o que mais se há-de fazer perante a grave crise internacional. Tem a vantagem da sinceridade. Mas perde-se em coisas vagas como "solidariedade nacional" e "consenso nacional". Não por acaso ele utiliza a metáfora do abalo de terra. Mas esta metafórica tem um duplo defeito. Em primeiro lugar, ao contrário do abalo de terra, a crise internacional não é obra da natureza, mas da forma como nós seres humanos, uns mais do que outros, lidámos com o universo das nossas necessidades, que a economia tem por função responder. Nos vários lugares do mercado e da sua regulação, houve gente que se portou mal, muito mal mesmo. Agiram segundo o seu livre-arbítrio e devem ser responsabilizados por isso. A crise é uma catástrofe, mas não uma catástrofe natural. Nestes casos, a utilização de tropos torna-se perigosa. Por outro lado, a identificação da crise com uma terramoto gera também ilusões sobre as soluções. A solidariedade deve ser um valor constante e não apenas nas situações críticas. Usá-la como retórica paliativa não traz mal ao mundo. O problema surge quando se fala em "consenso nacional". Mas o problema não tem sido mesmo esse? Não tem havido consenso nacional e internacional a mais? Não foi esse consenso que permitiu que se chegasse onde se chegou? O que nós precisamos é de romper esse consenso e encontrar vias alternativas novas. Alternativas no plano económico e no plano político. E quando falo no plano político não me estou a referir a alternativas dentro do espectro partidário. Estou-me a referir a novas formas de conceber a política e, já agora, a economia. Consenso nacional? Poupem-nos.
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