16/02/09

Chávez como sintoma

Na vitória de Chávez, no referendo de ontem, há qualquer coisa que merece ser meditada. Não será o tique de militar-ditador, já suficientemente propagandeado, nem a sua idiossincrasia, nem tão pouco a peregrina ideia da revolução bolivarina. Note-se que a vitória de Chávez não tem aquele resultado expressivo das eleições nos antigos países socialistas (54,4 - 45,6). Portanto, estamos perante processos aparentemente democráticos. Estes resultados, então, mostram que na sociedade venezuelana, provavelmente em muitas outras da América Latina, há qualquer coisa que não funciona, se o liberalismo económico se torna vigente. Pobres, excluídos, gente em desespero, convivem mal com a liberdade puramente formal, mas que permite a instituição de grandes clivagens sociais. O ensinamento maior, mesmo para as nossas sociedades, é que os mecanismos económicos, nomeadamente o mercado, devem existir em função dos homens e não estes em função da eficiência produtora e distribuidora. A vitória de Chávez ensina que, para evitar este tipo de políticas populistas, é necessário encontrar um justo equilíbrio nas sociedades. Um equilíbrio social entre os indivíduos que as compõem, como um equilíbrio entre aquilo que o homem deve dar à produção económica e aquilo que esta deve dar ao homem. O que se está a passar na América Latina, para além da denúncia de certas pulsões autoritárias, merece uma atenção mais cuidada. Mesmo nós europeus, em especial os portugueses, talvez tenhamos algo a aprender, e certamente não será o bolivarismo ou o socialismo. Chávez é apenas um sintoma.

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