01/05/09

O preço da abjuração


O Dr. Vital Moreira foi hoje agredido e insultado durante a manifestação da CGTP, para a qual tinha sido convidado. Segundo o próprio, isso terá acontecido pelo facto de ele ser um ex-militante do PCP. Para além da supina estupidez que é agredir ou insultar alguém devido às suas ideias ou à mudança das suas ideias, há uma coisa que merece ser sublinhada: a natureza religiosa das organizações políticas modernas. Assim como em certas áreas do Islão, a conversão a uma outra religião implica uma condenação à morte, também na vida partidária o grau de fidelidade ao ideário manifesta-se neste tipo de violência. Vital Moreira não é um mero dissidente partidário. É um homem que abjurou a fé onde cresceu. Isto, na mentalidade religiosa de alguns militantes, tem um preço que, ao que parece, eles estão desejosos de cobrar.

1 comentário:

maria correia disse...

Não gosto de multidões. A multidão pode transformar-se numa massa com fúria assassina, basta-lhe um pequeno rastilho. Mas não creio que a ira face a Vital Moreira tenha sido por ele ter abjurado da sua fé partidária. Isso foi a desculpa que o dr. Vital Moreira encontrou e a que mais se adequa ao seu papel de defensor das políticas do actual governo socialista. O dr. Vital Moreira já esteve presente em outros primeiros de Maio e fez a sua aparição pública milhares de vezes sem ter sido insultado. Neste primeiro de Maio, era ele o representante do governo mais destacado na manifestação da CGTP. O alvo, no fundo, da ira das pessoas foram as políticas do governo Sócrates, personificadas na figura de Vital Moreira que, ainda por cima, para essas pessoas, já tinha sido antes do partido comunista e, no ver dessas pessoas, teria estado nessa altura mais do lado delas do que se encontra actualmente. Como afirmou o secretário geral da CGTP, há que ver e compreender que naquela manifestação se encontravam muitas, muitas pessoas em sofrimento. Talvez muitas delas nem entendam bem as razões desta crise, as razões do seu sofrimento. Mas o sentimento de revolta explode quando já não há «negociação» possível, alternativa possível. Os insultos ao dr. Vital Moreira foram o nosso equivalente às violentas maifestações em Berlim, Hamburgo, S. Persburgo, em toda a fRança, na Grécia, na Turquia. Foram o equivalente ao acto deseperado do desempregado holandês, despejado da casa em que vivia por não a poder pagar, que se atirou contra o carro da rainha matando, infelizmente, inocentes. E que acabou por morrer também. Mais uma vez, e apesar do empolamento da imprensa aos insultos ao Dr. Vital Moreira, continuamos a ser um país de brandos costumes. Até ver.